Sei que muita gente nunca ouviu falar dele, e os poucos que ouviram talvez nunca leram. É raro aparecer alguém na biblioteca à sua procura, e quando aparece não o encontra, visto que já não está disponível. E tudo isso é extremamente lamentável, pois Cesare Pavese, a despeito do esquecimento, foi um dos mais grandiosos romancistas italianos do século XX. Eu diria que ele está para a Itália assim como Albert Camus está para França: o homem que sozinho incorporou e expressou a solidão de todos os homens!...
Isso pode ser comprovado nos livros La luna e i falò (A Lua e as Fogueiras) e Tra Donne Sole (Entre Mulheres Apenas), ambos situados na Itália do pós-guerra. Toda a literatura de Pavese fala-nos de como viver é sempre um ato solitário, apesar da pulsão para o outro, apesar da necessidade de amar. O mundo é o que cada um conhece: aquilo que acaba e começa em nós. E o amor é antes uma força destrutiva que salvadora. Uma pessoa não se mata por amor a outra – dizia ele - mas porque o amor, qualquer amor, nos revela a nossa nudez, a nossa miséria, a nossa vulnerabilidade, o nosso vazio.
Sempre que leio Pavese me pergunto quem poderia tê-lo magoado tanto. Por toda a sua obra ouvimos ecos de uma vida terrivelmente solitária, marcada por uma necessidade desesperada de amor (nunca correspondido), pela amargura e desolação, por uma infância assombrada pela morte do pai e vivida com uma mãe insensível (que desapareceu quando ele tem 13 anos). Escreveu-se, a propósito de Pavese, que a constatação da sua inadaptabilidade à vida o fez refugiar-se na literatura. Difícil contestar.
Com uma angustiante melancolia, ele constrói uma narrativa onde tudo aparece como mutável e imutável, como variações e contradições das paisagens exteriores e interiores do narrador. Há as oposições entre o campo, uma espécie de paraíso perdido, e a cidade, entre a aldeia e as cidades da Califórnia, entre o permanecer e o partir. Há em cada página dos livros de Pavese doses cavalares de existencialismo puro, que sem dúvida fazem dele o grande rival de Camus, seu duplo.
Para quem ainda não o conhece, e hesita em conhecer o desconhecido, recomendo que leia A Lua e as Fogueiras, romance escrito por ele meses antes de se suicidar, em Turim, num quarto de hotel, quando tinha apenas 42 anos. Eu considero sua obra-prima, emblemática, aquela que o confirma como romancista e poeta fundamental da literatura italiana. Depois, se tiver coragem, leia seu diário, intitulado O Mistério de Viver, que para ele foi mais um tormento que um mistério. Entre outras preciosidades você encontrará essa triste confissão de cansaço anotada nove dias antes de tentar estancar o sangue que lhe corria nas veias: "Um imenso fastio de tudo. Basta de palavras. Um gesto. Não escreverei mais."
Sempre que leio Pavese me pergunto quem poderia tê-lo magoado tanto. Por toda a sua obra ouvimos ecos de uma vida terrivelmente solitária, marcada por uma necessidade desesperada de amor (nunca correspondido), pela amargura e desolação, por uma infância assombrada pela morte do pai e vivida com uma mãe insensível (que desapareceu quando ele tem 13 anos). Escreveu-se, a propósito de Pavese, que a constatação da sua inadaptabilidade à vida o fez refugiar-se na literatura. Difícil contestar.
Com uma angustiante melancolia, ele constrói uma narrativa onde tudo aparece como mutável e imutável, como variações e contradições das paisagens exteriores e interiores do narrador. Há as oposições entre o campo, uma espécie de paraíso perdido, e a cidade, entre a aldeia e as cidades da Califórnia, entre o permanecer e o partir. Há em cada página dos livros de Pavese doses cavalares de existencialismo puro, que sem dúvida fazem dele o grande rival de Camus, seu duplo.
Para quem ainda não o conhece, e hesita em conhecer o desconhecido, recomendo que leia A Lua e as Fogueiras, romance escrito por ele meses antes de se suicidar, em Turim, num quarto de hotel, quando tinha apenas 42 anos. Eu considero sua obra-prima, emblemática, aquela que o confirma como romancista e poeta fundamental da literatura italiana. Depois, se tiver coragem, leia seu diário, intitulado O Mistério de Viver, que para ele foi mais um tormento que um mistério. Entre outras preciosidades você encontrará essa triste confissão de cansaço anotada nove dias antes de tentar estancar o sangue que lhe corria nas veias: "Um imenso fastio de tudo. Basta de palavras. Um gesto. Não escreverei mais."
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