Em agosto de 1899, no final de uma ponte que se liga à esquina da rua de Ponthieu, em Paris, André Gide foi abordado por um mendigo que lhe pediu alguns francos para poder jantar. Era uma noite quente de verão, e a ocorrência teria sido absolutamente trivial se não fosse o fato do mendigo ser "alguém"!... Era um homem sujo e, apesar dos andrajos, extremamente elegante, e mendigava com uma ironia que era bastante incomum entre os indigentes, mas inteiramente característica de Oscar Wilde.
Gide custou a acreditar quando o viu e reconheceu. Ficou estarrecido, mas pelo que escreveu em seus diário não se sentiu comovido: "Eu não senti pena ou prazer em revê-lo, apesar de sua extrema gentileza. Ele era incapaz de seriedade, e todos os seus pesamentos, tiradas, sensações, todo o costumeiro brilho de sua conversa me chocaram como um artigo de luxo ostensivamente exposto num período de fome e luto. Sua soberba, em meio a tamanha decadência, era um espetáculo lamentável e incômodo. Dei-lhe o dinheiro e me afastei."
Oscar Wilde agradeceu a esmola com uma frase acutilante: “Não covém desdenhar o que já foi destruído. Mesmo assim, muito obrigado”
André Gide não ousou olhar para trás.
Um comentário:
Que triste, não é? Vou acrescentar um pensamento , um trecho de um grande escritor brasileiro:
"Só as pessoas realmente fortes podem viver na realidade definitiva das coisas; quase todo mundo vaga numa atmosfera morna de fantasia." Lúcio Cardoso (Diário do terror). Acho que a imagem me sugeriu a lembrança, também!
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