terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Imoralista


André Gide era parisiense, filho único de uma rica família protestante, de quem recebeu uma educação severa, obedecendo a padrões rígidos de moral e disciplina. Essas circunstâncias o marcariam profundamente e se refletiriam em sua obra, quer sob a forma de submissão ou de revolta. Ascetismo e hedonismo, espiritualidade e sensualidade são os pólos através dos quais a escrita de Gide oscilou.
Quando a primeira guerra mundial terminou, os principais escritores franceses eram Paul Claudel, Paul Valery, Marcel Proust e André Gide. Os primeiros três destacavam-se cada um em seu gênero literário. Não se pode dizer que Gide fosse excelente em nenhum, mas seu espírito permeou todo o clima literário nos anos que se seguiram a guerra. Nos dias atuais, praticamente, nenhum dos quatro é lido.
A atual obscuridade de Gide, talvez, se explique porque era uma moralista, só que às avessas, ou seja, não como um modelo, mas como uma contestação. Sem querer, querendo, ele tornou-se porta-voz do novo mal-do-século, o símbolo da angústia pós-guerra. Gide acreditava que, na tentativa de se conformar com os padrões culturais, o indivíduo era obrigado a desenvolver uma personalidade falsa, que, o deformava e que precisava ser descartada. Isso deu muito pano para a manga da psicanálise e da contracultura que assolaria todas as expressões artísticas do século XX. E a posteridade acabaria acusando Gide de dilapidar séculos de tradição, desmerecendo a herança espiritual do ocidente.
Em parte isso é verdade, e em parte é um exagero. André Gide não tinha todo este poder, mas sabia fazer uma barulheira danada - sobretudo quando se sentia acuado. A sociedade configurava uma camisa (para não dizer saia) muito justa para seu espírito inquieto e confuso, por isso o que se pode afirmar de fato, é que sua obra literária era uma forma de querer ficar nu.
Gide tentava ser “normal”, mas nunca obtinha êxito, com efeito, clamava por rebeldia. Toda a sua trajetória pode ser acompanhada através do diário que ele começou a escrever aos 13 anos e só parou quando morreu. Nele vemos sua ascensão literária, as crises espirituais, as lutas consigo mesmo, e a imensa e terrível canseira que tudo isso lhe causava. Quem não tiver acesso aos diários (são de rara edição) pode ler qualquer um dos seus muitos romances e poemas, principalmente “Os frutos da terra”, “Os moedeiros falsos” ou “Os Subterrâneos do Vaticano”, que é a sua obra-prima e o único que eu li (gostei muito). Neles, André Gide, pós casamento fracassado e homossexualidade assumida, se consagraria como um dos maiores escritores do século passado. Em 1947 recebeu o prêmio Nobel de literatura e quatro anos depois, em 1951, faleceu em Paris, em decorrência de uma embolia pulmonar.
O mais interessante é que no final da vida, Gide passou a acreditar que a cultura precisava, para sobreviver, de uma tradição que lhe servisse de esteio. Depois disso o destino de André Gide foi ser considerado um cínico imoralista.
Leiam e façam seu próprio julgamento.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quem é André gide?(pergunta feita a alguém que ainda não leu o bibliotecarius)
Resp.: é um escritor...

Quem é André Gide? (pergunta feita a alguém que já leu o bibliotecarius)
Resp.: André Gide foi um escritor do século passado contemporâneo de Paul Claudel, Paul Valery, Marcel Proust, e que talvez por seu asceticismo tenha permanecido um tanto na obscuridade.

Ps p/ quem gosta de fofoca: ele queimava a rosca!!!
Casou e não gostou da fruta.rsrsrs

Anônimo disse...

Continue escrevendo e nos livrando da leiguice



Alguém

Tainá Rei disse...

Blog interessante... Gostei.