quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
sábado, 12 de dezembro de 2009
Entre a Cruz e a Poesia
E ouvi o meu amado que batia:
Abre minha amada, minha irmã,
Pomba sem defeito!
Tenho a cabeça orvalhada,
Meus cabelos gotejam sereno!
Já despi a túnica,
E vou vesti-la de novo?
Como se pode vê, é a lírica do "Cântico dos Cânticos" que assinala o modo como Juan de la Cruz compreende e expressa o cerne da nossa existência: o desejo! E sendo o desejo a contingência universal da natureza humana, só a sua objetivação em Deus pode plenificá-lo e abri-lo inteiramente à transcendência, cujo emblema é a cruz. Cristo, diz o santo-poeta, não pregou a aniquilação do desejo ou da paixão, pois era "verdadeiro Deus" e "verdadeiro Homem". Não quis desumanizar-nos, embotando nosso coração ou nos fazendo fugir dos sentimentos como fazem os estóicos e niilistas. Antes, ensinou-nos a vivê-los consciensiosamente, em máxima caridade, a ponto de aniquilarmos a nós mesmos!... Quem quiser segui-Lo, que tope o desafio: tome sua cruz e siga-O. Juan tomou a sua cruz e fez dela a mais bela poesia sobre os mistérios de Deus na alma e da alma em Deus. Sua imensa obra poética foi lida ao longo destes últimos quatro séculos, em várias línguas e lugares. Muitos dos seus leitores, naturalmente, não o entenderam, porém, isso não o impediu de marcar, indelevelmente, a moderna literatura ocidental com uma experiência espiritual que ecoou, e ainda ecoa, na noite escura da atualíssima insensibilidade estética, para não dizer espiritual.
Cristo de San Juan de la Cruz, segundo Salvador Dali
Em 1951, já adulto e famoso, Dali fez sua própria versão da imagem, e pintou um Cristo de cabelos curtos, sem coroa de espinhos, sem sangrametos e, no lugar da famosa inscrição no topo da cruz, ele colocou uma folha de papel dobrada: um poema de São João da Cruz!... Abaixo, pintou a baía de Port Lligat, onde vivia. Ao expor a imagem, Dali declarou que sua "ambición estética en ese cuadro era la contraria a la de todos los Cristos pintados por la mayoría de los pintores modernos, que lo interpretaron en el sentido expresionista y contorsionista, provocando la emoción por medio de la fealdad. Mi principal preocupación era pintar a un Cristo bello como el mismo Dios que él encarna."
A noite escura da alma
mesmo sendo noite!
Aquela eterna fonte está escondida,
que bem sei eu aonde tem guarida,
mesmo de noite!
E pela noite escura desta vida,
que bem sei eu por fé a fonte frida,
mesmo de noite!
Sua origem não sei, pois não a tem;
mas sei que toda origem dela vem,
mesmo de noite.
Sei que não pode haver coisa tão bela,
e sei que céus e terra bebem dela,
mesmo de noite.
Bem sei que solo nela não se vê
e ninguém pode atravessá-la a pé,
mesmo de noite.
Tem claridade nunca escurecida,
e sei que toda luz é dela havida,
mesmo de noite.
Sei serem tais caudais suas correntes
que céus e infernos regam, como às gentes,
mesmo de noite.
A caudal que provém desta nascente
bem sei ser mui capaz e onipotente,
mesmo de noite.
A corrente que de uma e outra procede
sei que nenhuma delas a precede,
mesmo de noite.
Bem sei que três numa única água viva
residem, e que de uma a outra deriva,
mesmo de noite.
Aquesta eterna fonte está escondida
em nosso vivo pão, por dar-nos vida,
mesmo de noite.
Aqui estão chamando as criaturas,
e fartam-se desta água, ainda às escuras,
porque é de noite.
Aquesta esta viva fonte, que desejo,
eu neste pão de vida bem a vejo,
mesmo de noite.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
La Lispector
STRIKE A POSE
Para saber mais...
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Entre densas nuvéns de incertza, o relampejar da esperança...
"Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade. Faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte. Faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária. Faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta. Faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe, e no entanto ele quer, e no entanto o beijo é perfeito. Faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para mim esse mundo é incompreensível, e eu fui criada também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la. Abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou. Faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém."
Prece,
Clarice Lispector.
Beth Goulart vive Clarice Lispector
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Eu acho que vi leitores!... Vi sim!!!
Pois é sumi por um tempo, eu sei, mas vocês acreditam se eu disser que foi por pura necessidade? O mundo me atropelou nos últimos meses, mas um atropelo daqueles a La Macabea no fim de "A Hora da Estrela", de Clarice Lipsector, sacumé? A vida me manteve ocupado por demais, demais até pra vir aqui.
No final do processo eu pensei em desistir dessa biblioteca: livros demais para meus pobres ossos!... Pensei mesmo. Que sentido manter um blog que você não consegue atualizar? Aliás, o que é um blog senão um monte de atualizações? No meu caso, isso aqui tem uma atualização cada dia, ou melhor, cada bimestre mais precária.
Daí eu cogitei parar. Foi então que lembrei que isso aqui tem já 2 anos, que isso aqui já trouxe pra minha vida um bocado de gente boa, legal, inteligente, que esse blog me ensinou um monte de coisas, que falei de um monte de escritores que merecem uma releitura, uma redescoberta, e são tantos. Como desistir dele?
Continuo por aqui. Muito menos frequente do que gostaria e do que já fui um dia, but... faz tempo que descobri que não se pode ter tudo. Rá! :P
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Leitura aeróbica
domingo, 11 de outubro de 2009
pAlaVraS caNtaDas
Saiba:
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Solilóquios...
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Épico Brasilensis
É impossível não admirar Euclides da Cunha. Seja pela sensação de fascínio, seja pelo assombro ou pela impressão de absurdidade, a admiração sempre sobrevém. É um pensador profundo, um artista de primeira ordem, um intelectual honesto, mas, sobretudo, um profeta. Grandes escritores são inopinadamente profetas, porque, a despeito do tempo e do lugar, realizam sua obra em dissonância com as perspectivas e expectativas vigentes, mas em consonância com o atemporal. Foi o que Euclides da Cunha fez em “Os Sertões”. Com um mérito muito maior do que qualquer outra saga depois de “Os Lusíadas”, a narrativa de “Os Sertões” incorpora o ressurgimento do épico na língua portuguesa, e de uma forma insólita. Trata-se de um poema geopolítico, histórico, jornalístico, sociológico, enciclopédico – enfim, é inapreensível a vastidão dos seus aspectos. E este caráter de magnitude é essencial sob duas proposições: primeiro, como sugestão, óbvia, do estilo épico e, depois, como meio de comunicar um sentido de História. Com alguma reflexão torna-se evidente que a imensidão é a liberdade mínima para o gênio poético de Euclides, bem como uma característica tanto de sua vida pessoal quanto de sua concepção de arte. Em toda sua trajetória, seja no brilhantismo precoce, seja nas aventuras escolares e militares, seja na militância jornalística ou acadêmica, seja no casamento desastroso ou na obra literária – breve, mas descomunal – a impetuosidade apaixonada é notória. Guimarães Rosa, ele mesmo um escritor de potência demoníaca, admitiu em crítica: “Jamais ousaria medir forças com Euclides da Cunha. Ele é como um vento tempestuoso, que fustiga quem o encara!...” Só um poeta seria capaz de mensurar o poder de outro. A obra euclidiana, de fato, tem elementos suficientes para resistir a modas e gostos de qualquer tempo. Embora todos os seus trabalhos sejam de alto nível, “Os Sertões” é sua máxima realização. “O maior livro do Brasil”, declarou o crítico Samuel Putman, enquanto o poeta Robert Lowell, numa nota introdutória à tradução americana, fez questão de situá-lo entre “Guerra e Paz” de Tolstoi e “Moby Dick” de Melville. Particularmente, considero essa designação justíssima, porque assim como os respectivos gênios literários da Rússia e da América, Euclides da Cunha introduziu a literatura brasileira no átrio seleto e elevado dos titãs. Reparem que a grandiosidade do épico está em descrever, analisar, explorar e acumular os dados da atualidade e da introspecção. De todas as representações da experiência às quais a literatura almeja, de todas as reformulações da realidade propostas pela linguagem, as do épico (mais do que o romance) são as mais eloquentes e incisivas. As obras de Virgílio, Dante, Camões, Milton, Sthendal ou Thomas Mann documentam, em amplitude, a nossa percepção de mundo e do tempo. São como primas-irmãs da História. Neste sentido, “Os Sertões” é paradigmático. Seu texto divide-se em três partes: “A Terra”, “O Homem” e “A Luta”. Nas duas primeiras o autor faz um estudo geofísico e etnológico tão minucioso quanto permitiria a ciência da época, e tão poético quanto permitiria sua força estética. Tem falhas, naturalmente: ele tenta ver a realidade pelas lentes do positivismo e do idealismo alemão, mas a como a verdade se impõe a quaisquer “ismos”, Euclides muda radicalmente de tom e perspectiva. E no decorrer do texto todas as convicções científicas, filosóficas, republicanas vão desmoronando. Limpo dos preconceitos, ele procura demonstrar que a jagunçagem rebelde e fanática não é um conluio criminoso, mas o efeito-colateral de uma sociedade isolada que surge à revelia da ordem, no descaso do Estado, esquecida da civilização. Aí se destaca o timbre da honestidade intelectual, porque além da coragem de mudar de opinião em pleno texto, ele primou pela observação direta em confronto com testemunhos levianos. Basta mencionar, como exemplo, o cuidado que ele teve em desmentir um boato difundido na imprensa por Olavo Bilac, segundo o qual “o patife do Antônio Conselheiro havia sido o assassino da própria mãe e da esposa”. No capítulo IV, da segunda parte, Euclides revela que a mãe de Antônio Conselheiro havia morrido quando ele ainda era criança e que a esposa havia fugido com um policial para Salvador. Naquele tempo já existia imprensa marrom!... O tom épico se estende da primeira à última página, mas atinge o ápice na terceira parte, que descreve “A Luta”. Nela vemos uma mescla de Homero e Heródoto, ou seja, o cotejo da realidade com o mito. Não a toa, “Os Sertões” teve mais de cem edições em português, dezoito em espanhol, doze em inglês, nove em francês e cinco em alemão. Entre seus fãs confessos e ilustres estão Stefan Zweig, Hermann Hesse, Gabriel Garcia Márquez, José Saramago e os, continuadores, Mario Vargas Llosa e Sándor Márai. Este último descreveu magistralmente a dura realidade sertaneja (Veredicto em Canudos) sem nunca ter pisado no Brasil, enquanto o primeiro engordou a narrativa (A Guerra do Fim do Mundo) dando uma pitada de realismo mágico. Ah! Não se pode esquecer que Jorge Luis Borges, no conto “Três Versões de Judas” também fez referência à pessoa de Antônio Conselheiro. Nestas circunstâncias constatamos que, quando o público brasileiro não mais quiser, ou não souber apreciar o épico da “Tróia de taipa”, a memória de Euclides da Cunha já estará devidamente honrada.
Multimídia d'Os Sertões
"Os Sertões" em xilogravura":
"Os Sertões" no cinema:
Consciência Ecológica Euclidiana...
sábado, 4 de julho de 2009
Declínio e Queda
domingo, 21 de junho de 2009
E aí eu acordo, e... tá 17 GRAU!!!
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Presença Real
Palavras Cantadas
Quæ sub his figuris vere latitas;
Tibi se cor meum totum subjicit,
Quia te contemplans totum deficit.