Aí, a pessoa que, há meses, está preparando uma certa pesquisa biográfica, o resgate histórico de um ilustre desconhecido, viaja algumas léguas até uma cidade específica, no maior empenho do mundo, para recolher documentos deveras importantes, num determinado convento, auxiliado por um frei todo paciência, solicitude e generosidade, ao lado do qual passa quase o dia inteiro vagando entre a biblioteca e o cemitério, do dito lugar, revirando fotos antigas, cartas encardidas e tals. Aí, a pessoa, já assaz satisfeita, suada, suja e, sobremaneira, bem informada sobre o referido e incógnito biografado, decide então que é hora de voltar. Aí, a pessoa agradece, despede-se e sai. Aí, a pessoa, com o lepitopi cheio de coisas e a cabeça cheia de ideias, de repente, olha em volta e percebe que está perdida. Aí, a pessoa perambula pelo bairro, erra as calçadas, pisa num côco -veja bem - num côco, e cai... Catapuf!... Aí, todo mundo ri e quase ninguem acode. Aí, a pessoa, muita digna, toda séria, se levanta, ajeita a roupa e a alma, e vai por ali, pela estrada a fora, pensando em quantos outros grandes historiadores já não cairam em circunstâncias análogas. Aí a pessoa, já confortada pela imagem de Heródoto se estatelando numa rua persa, ou do distraído Tucídides lascando a cara num obelisco egípicio, entra numa farmácia da rodoviária, compra um bandeidi, faz os devidos reparos, e toma o rumo de casa. Aí, a pessoa, já ônibus, recosta-se cadeira e, ainda como Heródoto, pensa: de todos os infortúnios que que afligem o homem, o mais amargo é que temos a consciência de muito, mas o controle de nada.
sábado, 4 de julho de 2009
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2 comentários:
Uau!Até que enfim! Uma pessoa passa anos dizendo que não escreve nada de pessoal, e aí, brilha num blog: de fato um simples nos leva a uma reflexão deveras atroz!
Abraços e aplausos: plat,´plat.
Elô
tai, gostei...
adoro Herodotos....
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