Hoje é dia do aniversário de Machado de Assis, mas eu não quero falar dele recontando as contingências da sua trajetória. Todos já sabem da gagueira, da epilepsia e da pele escura. São detalhes comentados ad nauseam, e já nem interessam. Neste dia quero me limitar (embora também não seja preciso) a falar do seu gênio ilimitado, posto que gênio é uma coisa que faz muita falta hoje me dia.
E para saber desse gênio não é preciso muito, basta dizer que partindo da obscuridade de uma origem humilde e percorrendo sozinho a estrada do autodidatismo - ajudado por talentos excepcionais e uma vontade inexpugnável - Machado elevou-se a uma altitude literária jamais atingida por qualquer outro escritor local, quer seja de antes ou depois. Em vida provou de toda consideração artística, ouviu elogios de melhor e de maior, acumulou prestígio, foi presidente de academia. E se ainda hoje a crítica insiste em apontá-lo como o dono da pena mais expressiva da nossa literatura (com o acréscimo de ser o mais extraordinário contista do idioma), é porque não apareceu sucessor.
Ao contrário dos Ronaldinhos e Giseles, o raro interesse universal que este homem provoca não se fundamenta em passageiros dotes físicos, mas numa arte sublime que o uso jamais desgasta.O crítico inglês John Gledson afirmou categoricamente que sem Machado de Assis a literatura brasileira não seria o que é: quem vem aqui à procura de faroestes-caboclos logo se assombra quando o descobre. Foi assim com o crítico Harold Bloom (que imediatamente o incluiu no cânone universal), com Susan Sontag (que enxergou nele algo superior a Borges), com Salman Rushdie (que disse não parecerem livros escritos há cem anos, mas anteontem), e com todos os outros que ousaram folhear seus livros mágicos. E esquisitos!... Woody Allen disse que “Memórias Póstumas” foi o livro mais esquisito e fascinante que já teve a sorte de ler. Não mentiu. Todavia, não disse tudo, nem poderia. Aos olhos de quem propõe uma definição, o bruxo se transfigura num mundo de arte e humanidade tão rico que qualquer crítica vai se desfazendo como ilusões mal distinguidas na distância. É mágica: Machado sempre se antecipa aos nossos movimentos, e antes que possamos apontar-lhe uma falha, ele mostra em nós a fraqueza existencial, a angústia do tempo, da morte, da opção moral. E faz tudo isso com aquela narrativa original, sempre reticente, lacônica, que nunca afirma, apenas insinua. Uma narrativa fina e circunspecta que gentilmente procura o leitor para conversar.
No passado tentaram acusar-lhe de elitista, "estrangeiro", apolítico – (e até hoje um e outro voltam à carga), mas não é preciso ser um observador muito arguto para entender que quem nasceu para ser eterno não se atem a épocas ou datas.
O bruxo jamais envelhece!
Portanto, nestes tempos de leituras de auto-ajuda, o leitor poderia se ajudar muito mais e se surpreender (tenho certeza) com um pouco da mágica do único clássico notório de que dispomos.
E para saber desse gênio não é preciso muito, basta dizer que partindo da obscuridade de uma origem humilde e percorrendo sozinho a estrada do autodidatismo - ajudado por talentos excepcionais e uma vontade inexpugnável - Machado elevou-se a uma altitude literária jamais atingida por qualquer outro escritor local, quer seja de antes ou depois. Em vida provou de toda consideração artística, ouviu elogios de melhor e de maior, acumulou prestígio, foi presidente de academia. E se ainda hoje a crítica insiste em apontá-lo como o dono da pena mais expressiva da nossa literatura (com o acréscimo de ser o mais extraordinário contista do idioma), é porque não apareceu sucessor.
Ao contrário dos Ronaldinhos e Giseles, o raro interesse universal que este homem provoca não se fundamenta em passageiros dotes físicos, mas numa arte sublime que o uso jamais desgasta.O crítico inglês John Gledson afirmou categoricamente que sem Machado de Assis a literatura brasileira não seria o que é: quem vem aqui à procura de faroestes-caboclos logo se assombra quando o descobre. Foi assim com o crítico Harold Bloom (que imediatamente o incluiu no cânone universal), com Susan Sontag (que enxergou nele algo superior a Borges), com Salman Rushdie (que disse não parecerem livros escritos há cem anos, mas anteontem), e com todos os outros que ousaram folhear seus livros mágicos. E esquisitos!... Woody Allen disse que “Memórias Póstumas” foi o livro mais esquisito e fascinante que já teve a sorte de ler. Não mentiu. Todavia, não disse tudo, nem poderia. Aos olhos de quem propõe uma definição, o bruxo se transfigura num mundo de arte e humanidade tão rico que qualquer crítica vai se desfazendo como ilusões mal distinguidas na distância. É mágica: Machado sempre se antecipa aos nossos movimentos, e antes que possamos apontar-lhe uma falha, ele mostra em nós a fraqueza existencial, a angústia do tempo, da morte, da opção moral. E faz tudo isso com aquela narrativa original, sempre reticente, lacônica, que nunca afirma, apenas insinua. Uma narrativa fina e circunspecta que gentilmente procura o leitor para conversar.
No passado tentaram acusar-lhe de elitista, "estrangeiro", apolítico – (e até hoje um e outro voltam à carga), mas não é preciso ser um observador muito arguto para entender que quem nasceu para ser eterno não se atem a épocas ou datas.
O bruxo jamais envelhece!
Portanto, nestes tempos de leituras de auto-ajuda, o leitor poderia se ajudar muito mais e se surpreender (tenho certeza) com um pouco da mágica do único clássico notório de que dispomos.
2 comentários:
concordo com o que escreveu.
mas temos outros bons escritores tambem.
guimaraes rosa que nao me deixa mentir.
Muito bons seus comentários! Também sou fã de Machado.Como sabe da natureza humana! As pessoas , muitas vezes, devem ficar irritadas ao se verem desnudads por sua literatura e instigadas pelos seus mistérios e raciocínios.Sem contar com seu fino erotismo e ironias, maravilhosamente divertidas. Machado ficaria muito feliz ao ler seu texto, acredito.Parabéns, Bibliotecário!
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