William Faulkner (essa coisa fofa na foto ao lado) aspirava criar um universo inalcançado, do qual apenas ele seria o único senhor e artífice; com efeito, o imaginário condado de “Yoknapatawpha” não era somente um retrato ficcional do condado de Lafayette, no Mississipi, sua terra natal, mas um lugar real onde assentou suas lendas profundamente humanas e universais. Faulkner é inegavelmente o maior romancista norte-americano desde Henry James - sua antítese. Nenhum outro escritor do século XX alinha-se, de modo tão definitivo, a grande seqüência de mestres da literatura americana: Hawthorne, Melville, Mark Twain e Henry James. Com eles, Faulkner forma a nata dessa literatura, e depois dele o resto é resto. Ainda que estivesse sujeito a influências decisivas, tais como Joseph Conrad e James Joyce, Falkner possuía um talento impar e considerável para a inovação narrativa. Seu gênio é verificado pela capacidade fecunda de criar homens e mulheres convincentes, embora, muitas vezes, terríveis. Seus personagens (com exceção dos idiotas) são todos obsessivamente obstinados e individualistas. Seu gênio narrativo pode ser constatado também através da capacidade de captar, em palavras, experiências humanas tenebrosas e estarrecedoras. Faulkner consegue ser nefasto e dramático ao mesmo tempo, mantendo o suspense para que o clímax, no final, possa ser perturbador. Coisa de matar Dostoievski de inveja!
Apesar disso, Faulkner também era capaz de cometer grandes equívocos e exagerar no experimentalismo (o mal do século) e no fluxo da consciência (às vezes parece uma Virgínia Woolf emaconhada), mas entre 19 romances que escreveu se incluem cinco obras-primas: O Som e a Fúria, Enquanto Agonizo, Santuário, Luz de Agosto, e Absalão, Absalão!... Coisas que por se só já o redimem de qualquer pecado. É verdade que ele jamais voltaria a escrever à altura dessas cinco obras, entretanto, nos últimos livros soube manter certa força ficcional e um humor feroz. Uma Fábula é o seu pior livro; Enquanto Agonizo, o melhor (em minha opinião). E se você ainda não teve o prazer de conhecer Faulkner, sugiro que comece por este, ou por qualquer dos outros cincos melhores. Não vai se arrepender. Mas advirto: é uma bigornada acme!... Os personagens de Faulkner são chocantes. Joe Christmas (paródia sinistra de Jesus Cristo), por exemplo, é uma das figuras mais impactantes que já li até hoje, não podemos simpatizar nem antipatizar com ele, é um desafio a nossa capacidade de interpretação, é a representação daquilo que Freud chamava de instinto de morte!... Eu diria até que é a morte literarriamente personificada. O sonho de Gabriel Garcia Márquez (fã nº 01 de Faulkner) era, e talvez ainda seja, fazer algo parecido com esse Joe. Quem viver verá!
Faulkner ganhou o Nobel, em 1949, quando já tinha perdido o talento, mas houve época em que, desconhecido e sem vender quase nada, se trancou num celeiro com duas caixas de bourbon, que bebeu todas em duas semanas, saindo com um livro ordinário, um potboiler e seguro de que enriqueceria com os direitos autorais. O livro é Santuário, a obra-prima que encalhou, apesar de ter cenas sensacionais como o personagem Popeye, que conforme Faulkner parece uma boneca de cera barbeada. Popeye estupra a moça bem-nascida, Templeton Drake, com um sabugo de milho. Ela adora e, quando é salva do cativeiro de Popeye, tem saudades dele.
Apesar disso, Faulkner também era capaz de cometer grandes equívocos e exagerar no experimentalismo (o mal do século) e no fluxo da consciência (às vezes parece uma Virgínia Woolf emaconhada), mas entre 19 romances que escreveu se incluem cinco obras-primas: O Som e a Fúria, Enquanto Agonizo, Santuário, Luz de Agosto, e Absalão, Absalão!... Coisas que por se só já o redimem de qualquer pecado. É verdade que ele jamais voltaria a escrever à altura dessas cinco obras, entretanto, nos últimos livros soube manter certa força ficcional e um humor feroz. Uma Fábula é o seu pior livro; Enquanto Agonizo, o melhor (em minha opinião). E se você ainda não teve o prazer de conhecer Faulkner, sugiro que comece por este, ou por qualquer dos outros cincos melhores. Não vai se arrepender. Mas advirto: é uma bigornada acme!... Os personagens de Faulkner são chocantes. Joe Christmas (paródia sinistra de Jesus Cristo), por exemplo, é uma das figuras mais impactantes que já li até hoje, não podemos simpatizar nem antipatizar com ele, é um desafio a nossa capacidade de interpretação, é a representação daquilo que Freud chamava de instinto de morte!... Eu diria até que é a morte literarriamente personificada. O sonho de Gabriel Garcia Márquez (fã nº 01 de Faulkner) era, e talvez ainda seja, fazer algo parecido com esse Joe. Quem viver verá!
Faulkner ganhou o Nobel, em 1949, quando já tinha perdido o talento, mas houve época em que, desconhecido e sem vender quase nada, se trancou num celeiro com duas caixas de bourbon, que bebeu todas em duas semanas, saindo com um livro ordinário, um potboiler e seguro de que enriqueceria com os direitos autorais. O livro é Santuário, a obra-prima que encalhou, apesar de ter cenas sensacionais como o personagem Popeye, que conforme Faulkner parece uma boneca de cera barbeada. Popeye estupra a moça bem-nascida, Templeton Drake, com um sabugo de milho. Ela adora e, quando é salva do cativeiro de Popeye, tem saudades dele.
Faulkner é assim... vai encarar?
5 comentários:
Vou , vou encarar ...Com seus comentários instigantes , vou encarar este tão famoso, e não-lido, escritor, pela plebe! rsrsr
Certamente não ficará indiferente!
Estou tem muito tempo procurando "O Som e Fúria"!
DE qual livro o personagem "Joe Christmas" �
Rico,
Joe Christimas é érsonagem de "Luz em Agosto"!... Paulo Francis teimava que a tradução correta do título deste romance, “Light in August”, era “Leve em Agosto”. Faulkner, ao que tudo indica, nunca pensou nisto, mas sim num certo tipo de luz que marcaria a paisagem de Agosto no Sul dos Estados Unidos. A sobrecapa da primeira edição americana do livro, muito simples por sinal, demonstra exatamente isto: intensos raios de luz, passando por nuvens esparsas e dando sobre uma casa pobre, de madeira, isolada. Mas na cabeça dura de Paulo Francis era "Leve em Agosto"!…
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