Sonhei que entrava numa catedral - que jamais vi - e encontrava o escritor Jorge Luis Borges, sozinho, sentado num dos bancos proximo ao altar. Estava de olhos fechados e parecia ouvir um belíssimo canto litúrgico, que eu conheço bem (Stabat Mater), mas que vinha não sei de onde. Não tive coragem de me aproximar, fiquei olhando-o de longe até que o canto acabou e ele saiu por uma porta lateral. Quando acordei, fui imidiatamente procurar o cd que tem esse canto. Não encontrei. Procuro mais tarde. Mesmo assim, o sonho não me saiu da mémoria, e ainda há pouco, lembrei que em se trantando de religião, ou mesmo fé, Borges era bastante reticente. Cresceu como cristão-católico, depois declarou-se ateu, depois agnóstico, depois não disse mais nada. Fascinava-se com a trovejante poesia do Alcorão, citava-a e recitava. Estudava cabala e teologia. Mesmo assim ninguém sabia se acretidava ou não.
No entanto ele rezava. Sei que sua poesia era uma forma de prece. As vezes até escrevia evangelhos apócrifos:
Felizes os que amam;
felizes os que podem prescindir do amor (…)
Felizes os felizes!
Desde que acordei, tenho pensado nestas preces poéticas, e tenho murmurado baixinho, como quem reza, a mais bela dentre elas:
Dai-me, Senhor, coragem e alegria
Para escalar o cume deste dia.
Para escalar o cume deste dia.
Era só isso que eu tinha a dizer nesta manhã de quinta-feira. Obrigado por sua atenção. Agora vou ali tentar reunir toda a coragem e alegria que puder, porque este dia tem um cume alto, escarpado e cheio de perigos, e ninguém pode escalá-lo por mim.
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