Na minguada constelação da poesia brasileira, Mario Quintana é astro de primeira grandeza, muito embora haja quem conteste, porque seu brilho surgiu tão remoto e distante que foi considerado pequeno e fugaz, como uma “supernova” poética. Eu, particularmente, o prefiro a qualquer outro - mesmo em detrimento dos meus conterrâneos (Manuel Bandeira e João Cabral) que desde sempre refulgem que nem os bois do carro-do-sol de Apolo Auriniente, divindade estética da música e da poesia. O que se deu com Quintana é o que se dá com tantos outros à margem dos acontecimentos, onde a chancela das edições provincianas é quase sempre uma fatal condenação ao silêncio e ao esquecimento. Mas quase!... Para escapar a esta triste fatalidade, e obter projeção, Quintana teve a sorte de ser reeditado no Rio de Janeiro (sob os auspícios de Manuel Bandeira), de onde, afinal, pôde brilhar em todo o seu esplendor, ofuscando assim as critiquinhas que queriam reduzi-lo ao tamanho delas próprias. A poesia de Quintana é feérica e se caracteriza por rápidos e pequenos sortilégios, feitiços ou simpatias verbais que funcionam e impressionam pela difícil simplicidade de sua forma e conteúdo. Ternura, melancolia, intimismo, misticismo, ironia, ingenuidade, humor e erotismo são ingredientes de sua quintessência poética. Quem nunca desejou, ou mesmo supôs-se capaz de imitar, e até superar Mario Quintana, para logo surpreender-se frustrado? Eu já!... Desde então abdiquei da vaidade de ser poeta. A facilidade com que se exprime é ilusória: nada aí está ao alcance dos nossos dedos, por mais próximo que pareçam. Quintana é um enfeitiçado das letras, dono de um condão semântico encantatório que ele sabe manipular com o mínimo de palavras. Com tais poderes, seus versos sempre conseguem aquele prodígio “lorcaniano” de significados, próprio da grande poesia. Seus símbolos e termos são quase sempre diminutos, estreitos, lacônicos, e no entanto polissêmicos, multívocos. A sua lírica é, como dizia Drummond, uma tradução para o simples de muitos mistérios. Com efeito, o monumental e misterioso “Em Busca do Tempo Perdido” de Marcel Proust, não pôde encontrar no idioma português outro tradutor mais competente. À parte as traduções, basta uma leitura, mesmo apressada de algumas de suas obras como “As Canções”, “O Aprendiz de Feiticeiro”, “O Sapato Florido”, “A Rua dos Cataventos”, “A Cor do Invisível” ou o “Carderno H”, para deixar claro o equivoco de certos telescópios críticos ao considerar menor essa imensa estrela poética. Quisera eu saber como fazer metade dessa poesia doce e lúcida, debochada, genial e grandiosa, apesar da humilíssima constituição, que está para muito além de qualquer academia, qualquer título.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
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5 comentários:
Ola Cristiano
esta aqui um poeta que treia na minha estante!
Então adquira já!...Quintana deve estar na cabeceira de todos os que ainda são capazes de ler poesia.
PS: Estive viajando. Depois apareço lá no orkut.
Bom fim de semana!
Oi Crhistiano!
Vim aqui dar uma espiada em teu blog, e me surpreendi com o óbvio (rs). Então, a um tempo venho procurando um poeta para ler, alguma coisa bem legal e esqueci completamente do Quintana. Já li algumas coisas dele pela internet (algumas podem até não ser dele, com essas atribuições falsas que existem) e sempre me encantei com a simplicidade das palavras em seus poemas, como no poema que tu postates. Vou colocar ele na fila já! Obrigado.
Edu,
Com o Quintana não tem erro. É mágica pura. Garanto que se arrependerá!
Uma dica: "Caderno H"!... Não é exatamente poesia, mas digressões poéticas (dá no mesmo?). Um excelente antepasto à obra de Quintana!
Obrigado pela visita.
Bem , falar de Quintana como você falou, só podia dar nisto:Despertar desejos de lê-lo em quem nunca o fez! Não é o meu caso.Adoro Quintana por sua aparente simplicidade.Não é fácil ser simples e ser poético! Quintana sabe ser!Só posso bater palmas pra você e ilustrar com um trechinho de poema: AH,SIM A VELHA POESIA...
Poesia, a minha velha amiga.../eu entrego-lhe tudo/ a que os outros não dão importância nenhuma.../a saber/o silêncio dos velhos corredores/uma esquina/ uma lua/(porque há muitas luas...)/o primeiro olhar daquela primeira namorada/ que ainda ilumina, ó alma,/a tua câmara de horrores.
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Abraços.
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