segunda-feira, 28 de maio de 2007

O pai do 007


Filho de um ilustre herói de guerra e neto de um riquíssimo banqueiro escocês, Ian Lancaster Fleming, nasceu no dia 28 de maio de 1908 para ser mais um aristocratazinho mimado, que viveria a sombra da fortuna do avô, sem nenhuma notoriedade além das colunas sociais. Todavia, a literatura quis um destino diferente e, digamos, mais "nobre". Depois de concluir os estudos (nas melhores escolas européias), Fleming renunciou ao mecenato do avô e tentou se virar sozinho, indo trabalhar na agência internacional Reuters, no início da 2ª guerra. Foi aí que a veia jornalística, aliada ao seu vasto conhecimento em línguas, fez com que ele descobrisse a vocação literária. Trabalhando em lugares “perigosos”, como Berlim e Moscou, Fleming foi o melhor e mais confiável correspondente internacional do Times de Londres. Por essa época, na Rússia, ele teve que cobrir o julgamento de seis engenheiros britânicos acusados de serem agentes secretos. Era o primeiro contato com o submundo da espionagem, que o deixaria fascinado e levaria a ingressar no Serviço de Inteligência da MI6, onde chegou ao posto de comandante — tal qual o seu ilustre personagem: o agente James Bond, cognominado 007.
É incrível, mas ainda há muita gente que não sabe da origem literária do lendário espião (sinal de que a literatura, de fato, está ameaçada pelas telas). James Bond surgiu há 54 anos, em meados de 1953, no livro Casino Royale (recentemente filmado). Já deslumbrado pelo mundo da espionagem e por bacará, Ian Fleming imaginou um personagem que fosse uma versão ideal de si mesmo, um fumante inveterado, fino, culto e elegante, que trabalhasse para o MI6 e que tivesse sorte no jogo e com as mulheres. Só faltava um nome. Fleming se lembrou de um livro que estava lendo em suas férias na sua fazenda na Jamaica. O nome do livro era Birds of the West Indies. O nome do autor da obra: James Bond, um ornitólogo. No entanto, segundo a biografia fictícia, James Bond, o agente, nasceu na Escócia em 1924. Seus pais morreram em um acidente na montanha quando ele tinha 8 anos. Depois da guerra, entrou para o MI6 como agente externo, ao contrário do MI5, que atua apenas dentro do Reino Unido. Nesse setor, teria recebido a “famosa” licença para matar, que é indicada pelos dois zeros na frente do 7, em 1950.
Metade ficção, metade um disfarçado guia de espionagem para novatos, Casino Royale foi inspirado numa fracassada incursão de Fleming pelos cassinos de Lisboa durante a 2ª Guerra Mundial. O trabalho tornou-se estrutura básica da maioria dos livros de Bond e do seu próprio personagem. Contudo, não obteve sucesso imediato. A primeira edição contou com parcos 475 exemplares, e até hoje é item de colecionador. Passados 40 anos, porém, a obra é peça procurada e paga a peso de ouro.
Persistente, Ian queria ser tão famoso quanto seu irmão Peter Fleming, que ganhou notoriedade como o autor dos livros "Brazilian Adventure" (1933), onde narra suas expedições ao interior do estado de Mato Grosso (alguém já leu ou ouviu falar?)!... Ian apostou então novas fichas e publicou o sequência "Viva e Deixe Morrer". Deu sorte: em 1954, do dia pra noite, tornou-se num dos autores mais empolgantes e prolíficos da história das novelas de espionagem. Seu herói idealizado, típico de matinés, cheio de clichês que já atravessam 20 filmes e 40 anos de existência nas telas de todo o mundo, é admirado por qualquer mortal que nos cinemas viu seus muitos intérpretes, ou conheceu a sua música tema, os seus carros potentes, suas engenhocas infalíveis, a sua bebida favorita e as suas extravagâncias sexuais. Ironicamente tudo isso foi visto, mas não lido.
Pode-se dizer que cinema foi ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição para Fleming que, apesar de todo sucesso, jamais foi devidamente apreciado como escritor. Mas, a vida é assim mesmo.
Rico, famoso e invejado, no auge de sua produção intelectual, Ian Fleming morreu num campo de golfe de Kent, na Inglaterra, no dia 12 de agosto de 1964, devido a uma complicação coronariana produzida pelo cigarro. Seu último desejo era que o seu sobrinho, e ator, Christopher Lee, interpretasse Bond no cinema. Mas Lee estava mais interessado em ser o Supermen. Então, por mais uma dessas ironias do destino, a encarnação do personagem teve que ser feita pelo o ator que Fleming mais detestava: Sean Connery!... Que, todavia, adorava ler as aventuras do 007, e foi o seu melhor intérprete. Coisas da vida.

Nenhum comentário: