Se a exclusão precisasse de rosto e nome, poderia fazer bom uso do escritor Lima Barreto (aí ao lado), que entre outras coisas foi o homem mais desrespeitado da literatura brasileira. Preto e pobre, Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no dia 13 de maio de 1881, para ser o grande sucessor, ou simplesmente o continuador de Machado de Assis - se assim tivessem deixado. Pertencente a linhagem dos romancistas urbanos, Lima, assim como seu antecessor, era o cronista dos ambientes e costumes cariocas. Tinha o mesmo pessimismo e humor, a mesma finura psicológica; a mesma categoria de personagens: o burocrata, o amanuense, o funcionário público; a mesma amargura, a mesma revolta, o mesmo desencanto. Porém, nele, esses aspectos negativos tomavam dimensões polêmicas, que por vezes desequilibravam o efeito estético. Efeito que em Machado de Assis era constante.
Mas isso se explica: Lima Barreto, ao contrário de Machado, era mais ressentido do que cínico, e jamais se conformou com os abusos e dissabores vividos em decorrência de sua cor. Ainda menino, ele viu e sentiu o sofrimento de perto, quando perdeu a mãe e foi enjeitado pelo pai. Morou de favor, passou fome, foi explorado, abusado sexualmente, reprovado injustamente por professores, maltratado pela polícia, constantemente injuriado e perseguido (por sua cor), de modo que no decorrer de toda sua curta vida, teve que conviver com uma rejeição que se manifestou em tudo e em todos, até na literatura, da qual ele esperava pelo menos um pingo de consideração. Inteligente e autodidata, fez-se intectualmente as próprias custas. Queria ser advogado, todavia não permitiram, acabou como soldado de polícia. Depois tentou o jornalismo, onde obteve um pequeno espaço, e então revelou-se talentoso escritor, um dos melhores. Entretanto, quando pensou ter enfim encontrado sua tábua de salvação, deparou-se novamente com a terrível cara da exclusão. Já no primeiro romance, Lima tornou-se o objeto de escárnio e zombaria da racista crítica literária de sua época, que não o considerava escritor bastante para merecer colunas literárias nos jornais cariocas, e tampouco menções honrosas por parte da Revista da Academia Brasileira de Letras, veículo oficial da intelectualidade. Em torno dele criou-se um escudo de silêncio, que só era rompido pelas acusações de vulgaridade e baixeza. Ingênuo, ou talvez irônico, ele atribuía a opinião da crítica às imperfeições de sua letra quase ilegível. Mas o fato é que Lima Barreto pouco tinha a oferecer a esse tipo de crítica e, consciente de sua marginalidade literária e social, nunca esmoreceu em combate ou tornou-se agregado deste ou daquele grupo literário, com vistas a uma aceitação por parte da crítica e, por extensão, do público. Era orgulhoso. Não obstante, sofreu com a rejeição. Escreveu 11 livros e, apesar do inegável talento, foi sempre despresado. E como sabemos o despreso é um adversário impiedoso.
Cansado, vencido, deprimido, Lima Barreto enloqueceu e afundou no álcool. E, em plena Semana de Arte Moderna, morreu como havia vivido, só e esquecido.
Mas isso se explica: Lima Barreto, ao contrário de Machado, era mais ressentido do que cínico, e jamais se conformou com os abusos e dissabores vividos em decorrência de sua cor. Ainda menino, ele viu e sentiu o sofrimento de perto, quando perdeu a mãe e foi enjeitado pelo pai. Morou de favor, passou fome, foi explorado, abusado sexualmente, reprovado injustamente por professores, maltratado pela polícia, constantemente injuriado e perseguido (por sua cor), de modo que no decorrer de toda sua curta vida, teve que conviver com uma rejeição que se manifestou em tudo e em todos, até na literatura, da qual ele esperava pelo menos um pingo de consideração. Inteligente e autodidata, fez-se intectualmente as próprias custas. Queria ser advogado, todavia não permitiram, acabou como soldado de polícia. Depois tentou o jornalismo, onde obteve um pequeno espaço, e então revelou-se talentoso escritor, um dos melhores. Entretanto, quando pensou ter enfim encontrado sua tábua de salvação, deparou-se novamente com a terrível cara da exclusão. Já no primeiro romance, Lima tornou-se o objeto de escárnio e zombaria da racista crítica literária de sua época, que não o considerava escritor bastante para merecer colunas literárias nos jornais cariocas, e tampouco menções honrosas por parte da Revista da Academia Brasileira de Letras, veículo oficial da intelectualidade. Em torno dele criou-se um escudo de silêncio, que só era rompido pelas acusações de vulgaridade e baixeza. Ingênuo, ou talvez irônico, ele atribuía a opinião da crítica às imperfeições de sua letra quase ilegível. Mas o fato é que Lima Barreto pouco tinha a oferecer a esse tipo de crítica e, consciente de sua marginalidade literária e social, nunca esmoreceu em combate ou tornou-se agregado deste ou daquele grupo literário, com vistas a uma aceitação por parte da crítica e, por extensão, do público. Era orgulhoso. Não obstante, sofreu com a rejeição. Escreveu 11 livros e, apesar do inegável talento, foi sempre despresado. E como sabemos o despreso é um adversário impiedoso.
Cansado, vencido, deprimido, Lima Barreto enloqueceu e afundou no álcool. E, em plena Semana de Arte Moderna, morreu como havia vivido, só e esquecido.
3 comentários:
Amo Lima! Mas ele fazia por ser rejeitado, segundo li. Andava muito sujo, com roupas mal-cheirosas.Pessoa que ninguém gostaria de ter por perto. Era um círculo . Não acho que fosse somente uma questão de cor.Machado foi bem aceito apesar de mulato.O mundo era muito diferente de hoje em relação a certos valores.Gostei muito de ler suas informações sobre ele. Quero acrescentar que ele foi aluno do Liceu , colégio aqui de Niterói, Estado-RJ. Em termos literários foi bastante inovador, pois usava uma linguagem que depois viria ser aceita pelos modernistas, mas não, pelos intelectuais da época, vc está certo!Abraços e obrigada!
Olá, flordelys!
Que prazer em revê-la aqui na biblioteca. Obrigado pela presença e pelas observações. Sinta-se a vontade para acrescentar, corrigir, refutar e enriquecer este blog. Volte sempre!
Grande abraço.
Olá, Bibliotecário.
Tenho pesquisado algumas coisas sobre esse gênio da nossa literatura, Lima Barreto, e achei interessante algumas passagens inéditas para mim nesse texto, como por exemplo, o fato de ter sido abusado sexualmente. Sabe mais detalhes sobre isso, quando, motivo, por quem?
Grande abraço,
Leo Nunes.
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