A vida do homem, bem como toda a história humana, é uma teia de causas e efeitos, de atos e conseqüências, à qual não se pode fugir. Essa realidade, às vezes, torna-se mais manifesta em casos particulares, como na trajetória do escritor Isaac Emmanuilovich Babel, ou simplesmente, Isaac Babel.
Cidadão russo, de origem ucraniana, ele é o primeiro escritor que me vem à mente, depois de Kafka, quando penso na moderna ficção judaica. Mesmo tendo sido ateu, é possível detectar uma contida espiritualidade iídiche em seus textos – coisa de raça. É considerado também o primeiro escritor de importância a emergir da Revolução Bolchevique. Sua obra-prima é “Exército de Cavalaria” ou “Cavalaria Vermelha”, um livro de contos baseados na guerra civil, escritos num estilo bastante rico, em que, de modo contundente, misturam-se violência e romantismo, lirismo e barbárie. Sua técnica utiliza a inesperada oposição de imagens, numa das prosas mais vivas já escritas em língua eslava desde Tolstoi. Possuía um grande poder de concisão – alguns de seus contos tem apenas uma página. Seu outro grande livro chama-se “Contos de Odessa”: divertidas histórias de judeus ambientados no gueto da cidade natal de Babel. Em nenhum outro lugar, exceto nas páginas de Babel, vejo homens de ternos alaranjados e coletes em tom bordô, e mulheres de vestidos vermelhos, calçando botas masculinas. É uma literatura peculiar e desconcertante, própria de grandes contistas como Tchekov, Gogol e Maupassant (seus prediletos). Pena que seja tão concisa!... Sua obra completa não chega a preencher mais do que um livro de bolso, porém esta medida é suficiente para perceber seu gênio. Nas quase 60 histórias curtas que compôs, irradia um talento extraordinário, que retrata a dicotomia de causa e efeito da qual foi vítima.
Babel sonhou e lutou para elevar a sociedade humana a um paraíso comunitário e material, e para isso, juntamente com outros sonhadores-ideólogos, deu início à construção de uma torre utópica. Revolucionário de primeira hora, não tardou, contudo a antever a tragédia de sua revolução, de modo que imediatamente se recusou a expressar em suas páginas o otimismo acrítico das realizações soviéticas. Ao invés disso a sociedade pós-revolucionária foi por ele descrita de forma áspera e sincera em toda a sua complexidade humana e moral. Mas aí já era tarde, a torre estava na metade. E esse desencontro com o poder soviético levou-o ao virtual silêncio durante a década de 1930 e, finalmente, à reclusão num campo de prisioneiros na Sibéria. Como outras torres ideológicas do passado, a Torre de Isaac Babel foi o ensejo de sua confusão e queda. Ele já não falava a mesma língua dos outros, era estrangeiro na cidade que havia ajudado a construir, quase um intruso. Com efeito, sobreveio o raio que o fulminaria.
Em 1940, a polícia secreta de Stalin o acusa de ser traidor, subversivo, e o executa sumariamente. Seu corpo nunca foi encontrado. Babel ajudou a dar vida ao comunismo, que depois lhe tiraria a vida. Irônica história de atos e conseqüências.
Cidadão russo, de origem ucraniana, ele é o primeiro escritor que me vem à mente, depois de Kafka, quando penso na moderna ficção judaica. Mesmo tendo sido ateu, é possível detectar uma contida espiritualidade iídiche em seus textos – coisa de raça. É considerado também o primeiro escritor de importância a emergir da Revolução Bolchevique. Sua obra-prima é “Exército de Cavalaria” ou “Cavalaria Vermelha”, um livro de contos baseados na guerra civil, escritos num estilo bastante rico, em que, de modo contundente, misturam-se violência e romantismo, lirismo e barbárie. Sua técnica utiliza a inesperada oposição de imagens, numa das prosas mais vivas já escritas em língua eslava desde Tolstoi. Possuía um grande poder de concisão – alguns de seus contos tem apenas uma página. Seu outro grande livro chama-se “Contos de Odessa”: divertidas histórias de judeus ambientados no gueto da cidade natal de Babel. Em nenhum outro lugar, exceto nas páginas de Babel, vejo homens de ternos alaranjados e coletes em tom bordô, e mulheres de vestidos vermelhos, calçando botas masculinas. É uma literatura peculiar e desconcertante, própria de grandes contistas como Tchekov, Gogol e Maupassant (seus prediletos). Pena que seja tão concisa!... Sua obra completa não chega a preencher mais do que um livro de bolso, porém esta medida é suficiente para perceber seu gênio. Nas quase 60 histórias curtas que compôs, irradia um talento extraordinário, que retrata a dicotomia de causa e efeito da qual foi vítima.
Babel sonhou e lutou para elevar a sociedade humana a um paraíso comunitário e material, e para isso, juntamente com outros sonhadores-ideólogos, deu início à construção de uma torre utópica. Revolucionário de primeira hora, não tardou, contudo a antever a tragédia de sua revolução, de modo que imediatamente se recusou a expressar em suas páginas o otimismo acrítico das realizações soviéticas. Ao invés disso a sociedade pós-revolucionária foi por ele descrita de forma áspera e sincera em toda a sua complexidade humana e moral. Mas aí já era tarde, a torre estava na metade. E esse desencontro com o poder soviético levou-o ao virtual silêncio durante a década de 1930 e, finalmente, à reclusão num campo de prisioneiros na Sibéria. Como outras torres ideológicas do passado, a Torre de Isaac Babel foi o ensejo de sua confusão e queda. Ele já não falava a mesma língua dos outros, era estrangeiro na cidade que havia ajudado a construir, quase um intruso. Com efeito, sobreveio o raio que o fulminaria.
Em 1940, a polícia secreta de Stalin o acusa de ser traidor, subversivo, e o executa sumariamente. Seu corpo nunca foi encontrado. Babel ajudou a dar vida ao comunismo, que depois lhe tiraria a vida. Irônica história de atos e conseqüências.
2 comentários:
Abri, no blog que faço, um espaço de indicação de boas leituras. Claro que a maioria é leonística, mas não vivemos somente de leonismo.
Pergunto se me autoriza a indicar o seu blog como uma boa leitura.
Meu blog está no endereço
www.lionsclubecabofrio.blogspot.com
Claro q pode!... Seria uma gentileza e também um favor. Fico lisonjeadíssimo!
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