Ele desenhava tão bem quanto escrevia, com efeito, além de autor foi ainda o ilustrador de seus textos maravilhosos - dentre os quais, uma pequena jóia:"O Ateneu". Não bastasse a variedade de talentos, Raul Pompéia também obteve destaque por atitudes e ideais igualmente controvertidos. Se estivesse vivo, ontem ele teria completado 144 anos de vida!... Ironia para quem morreu tão cedo.
Pompéia inaugurou o impressionismo no Brasil, criou uma obra pulsante e, como descendente literário dos Goncourt, escrevia páginas onde era possível sentir-lhe o sistema nervoso à mostra. Hoje poucas pessoas o procuram.
Seu principal romance conta o drama de um menino num colégio interno e, como é narrado na primeiro pessoa, pode ser lido como uma revoltada confidência do autor, que parece bastante ressentido do passado. Aliás, ressentimento é pouco. O Ateneu é uma vingança exasperada de um tímido, desajustado e irrealizado, que na vida jamais soube o que era a amizade. No conceito do personagem esse sentimento tem qualquer coisa de interesseiro, homossexual, logo repulssivo.
Talvez isso explique o fato de Pompéia nunca ter tido um amigo íntimo! - dado marcante de sua biografia conturbada. Por compleição e cálculo era anti-social, circunspeto, fechado ao convívio e ao diálogo. Tinha prazer em criar polêmicas, em arengar em comícios, em rugir nos jornais. Por questões políticas chegou a duelar com o poeta Olavo Bilac (ninguém saiu ferido). E parece que nunca casou, ao invés disso passou a vida colecionando desafetos até que aos 32 anos cometeu suicídio. Quanta solidão!
No entanto, ele nos deixou o "Ateneu", e só por isso merece nossa consideração.
Nos dias de hoje, um jovem com raiva, igualmente desasjustado, abriria fogo contra colegas e professores. Raul Pompéia, porém, que era igualmente desajustado, tinha tanta raiva quanto talento, de modo que fez com que o melhor do seu talento se expressasse justamente na autenticidade de sua raiva.
E disso resultou uma obra-prima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário