segunda-feira, 16 de abril de 2007

O Bibliotecário do mês


Quando ele nasceu, em 16 de abril de 1844, já era um velho, e só depois, já em idade muito avançada, tornou-se menino. Estou falando de Anatole France, não de Fernando Sabino.
Aos quarenta e cinco anos - idade em que Spinoza morria e Nietzsche enlouquecia - Anatole France rejuvenesceu. E até hoje ninguém sabe explicar como ou porque, aquele obscuro coletor de brochuras, sempre mergulhado no pó das bibliotecas, tornou-se o último representante do século de ouro da literatura, o selo dos antigos romancistas.
O riso escandaloso de Rabelais, Montaigne, Voltaire, Balzac e Flaubert ecoaram pela última vez em seus livros. Depois dele iniciou-se outra época, nossa época, cujo primogênito era Proust. Esqueceram France.
Não obstante, France escreveu melhor do que qualquer francês moderno. Se alguém duvida, que então leia Thais, belíssimo romance histórico e filosófico. Nunca na literatura francesa observou-se mais delicado equilíbrio entre a sutileza do pensamento e a transparência da frase; o leitor às vezes esquece que tem em mãos uma filosofia romanceada, porque a filosofia usualmente não se veste com tanta arte. E essa imperceptível união entre o assunto e a forma, esse casamento da sabedoria com a beleza, constitui a suprema realização de Anatole France.
Sua alma era grande o suficiente para conhecer a bondade, a verdade e a beleza; e sua arte sabia exibi-las no esplendor da unidade. Anatole, além de bibliotecário, foi um grande artista.

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