Do mesmo modo que a miniatura persa, a literatura persa é quase desconhecida no Brasil, onde só o nome de Omar Khayam parece ter alcançado, embora através de traduções que o desvirtuam. O leitor de poesia continua a ter diante de si um tesouro inexplorado e, se tiver paciência e constância, se tiver coragem para acolher um sistema metafórico profundamente diferente do nosso, conhecera a mesma experiência que, há cento e oitenta anos, abalou e transformou Goethe: um território que lhe revelará uma face da poesia jamais entrevista, um poeta que sua veneração poderá colocar ao lado dos artistas supremos do ocidente.
Estou falando de "Nezam al-Din Abu Mohammad Elyas Ibn Yosouf Ibn Zaki Ibn Mo’ayyed Nezami Ganjavi", mais conhecido como Nezami Ganjavi, um dos maiores poetas persa. A bem da verdade, Nezami nasceu no Azerbaijão, mas quando era território persa. E embora não se possa afirmar com exatidão, seu aniversário é hoje, 14 de abril.
Quando a escrita árabe chegou à Pérsia, através do Islã, foi Nezami quem primeiro a empregou na criação de uma literatura melodiosa e brilhante. Como excelente artista da palavra, erudito e místico sufi, ele deixou uma obra inugulável onde se mistura fé e erotismo. E como observador atento e penetrante, demostrou grande talento na apresentação de situações emocionais.
Sua obra capital é vasta, mas seu gênio concentra-se em quatro grandes poema: "As sete Efigies", "Tesouro dos Mistérios", "O Livro de Alexandre" e "Laila e Majnun" (meu predileto). Este último é o relato de uma ausência, de um amor impossível que antecipa Romeu e Julieta em tempo e beleza.
Como também era profundamente religioso, Nezami gostava de compor orações, por isso frequentemente nos deparamos com preces em meio aos seus romances, cuja leitura é tão sublime quanto a dos salmos. Ouçamos:
"Se falasse cem línguas, louvar-te-ia em cada uma delas; Todavia tu sabes compreender a língua de quem não possui a palavra." (Laila e Majnun)
Nezami também venerava a palavra, era algo sagrado para ele:
"Aquilo que é novo e, ao mesmo tempo, antigo, é a palavra... A palavra - que é, como o espírito, imaculada - é a guardiã do cofre do reino invisível: ela conhece histórias nunca antes narradas e lê livros que jamais foram escritos!" (As sete efígies).
Como se vê, Nezami é um tesouro a ser descoberto.
Um comentário:
AMO LAILA E MAJNUN! E realmente a história, a literatura, a cultura persa são de uma riqueza inigualável! É uma pena que seja pouco conhecida não só no brasil, mas em outros países ocidentais também.
O Shahnameh, livro épico persa do séc X, só recentemente foi traduzido na espanha e aqui no brasil nem tradução tem :( Estava louca para ler, que droga!
Postar um comentário