sábado, 21 de abril de 2007

A Obscena Senhora H.


Nascida no dia 21 de abril de 1930, Hilda Hilst veio ao mundo para atear fogo na literatura, e vigiaria para que queimasse. Uns a consideram marginal, outros louca, outros pop. Rótulos que se despegam fácil quando a lemos com atenção. Hilda Hilst além de culta, desbocada, falante, divertida, bem-nascida, era simplesmente uma mulher incomum, do tipo que impressiona à primeira vista, e às vezes espanta. A condição básica da minha aceitação em relação a ela, foi a sensação de uma qualidade excepcional.
Suas obras são de uma intensidade incômoda: performáticas, escandalosas, brutais. Sua prosa é de legibilidade difícil, tem algo de Joyce - assim como sua poesia, que parece uma inusitada mistura de São João da Cruz com Jorge de Lima.
Coisa que não se encontra em qualquer lugar.
Embora tenha se afastado do mainstream da literatura brasileira, sempre muito comportado, Hilda visitou todos os gêneros, e não raro tentou fundi-los num só. Claro que isso nem sempre deu certo. Mas ela era assim, tomava caminhos que todo mundo estranhava. A crítica se dividia: uns diziam que ela era ótima companhia para o ônibus, o metrô ou a fila do banco, sobretudo nos ares estressantes da metrópole – ou seja, sua leitura não exigia concentração! Outros diziam o contrário, que ela era hermética, confusa, demasiado experimental e vulgar. Blá, blá, blá...
Tais críticas não seriam um problema tão grande, se por trás delas não houvesse uma imensa preguiça e incompetência de ler. Seus defeitos, se assim quisermos chamá-los, decorrem do seu misticismo visionário, da necessidade urgente de transcender. Eu creio que Hilda foi vítima da própria exuberância espiritual.

A literatura tem a obrigação de expandir o universo moral de qualquer pessoa e ela fez isso: enfrentou a moralidade social, o que é o máximo. É importante que a literatura de um país tenha inovadores como ela, principalmente numa literatura que muda tão pouco. Quanto mais velha, mais louca e melhor ela ficava.

Um comentário:

Unknown disse...

Ela ainda é um enigma para mim.Mas um enigma muito instigante. Algum dia vou dizer se o decifrei...Muita pretensão? Que bom ter-se lembrado dela!