quarta-feira, 29 de julho de 2009

Consciência Ecológica Euclidiana...


Não esqueçamos o agente geológico mais devastador – o homem.
Este, de fato, não raro reage brutalmente sobre a terra e entre nós nomeadamente, assumiu, em todo o decorrer da história, o papel de um terrível fazedor de desertos. Começou isto por desastroso legado indígena.
Na agricultura primitiva dos silvícolas era instrumento fundamental – o fogo.
Entalhadas as árvores pelos cortantes dgis de diorito; encoivarado, depois de secos, os ramos,alastravam-lhes por cima, crepitando, as caiçaras, em bulcão de fumo, tangidas pelo vento. Inscreviam, depois, nas cercas de troncos combustos das caiçaras, a área em cinzas onde fora a mata exuberante. Cultivaram-na. Renovavam o mesmo processo na estação seguinte, até que, de todo exaurida aquela mancha de terra, fosse, imprestável, caapueira – mato extinto – como o denuncia a etimologia tupi, jazendo dali por diante irremediavelmente estéril...
Veio depois o colonizador e copiou o mesmo proceder.
Imaginem-se os resultados de semelhante processo aplicado, sem variantes, no decorrer dos séculos...
Previu-os o próprio governo colonial. Desde 1703 sucessivos decretos visaram opor-lhes paradeiro. E ao terminar a seca lendária de 1791-1792, a grande seca, como dizem os mais velhos sertanejos, que sacrificou o Norte, da Bahia ao Ceará, o governo da metrópole figura-se tê-la atribuído aos inconvenientes apontados desde logo, como corretivo único, severa proibição ao corte de florestas.
Esta preocupação dominou-o por muito tempo. Mostram-no-lo as cartas régias de 17 de março de 1796, nomeando um “Juiz Conservador de Matas”; e a de 11 de setembro de 1799, decretando que “se coíba a indiscreta e desordenada ambição dos habitantes da Bahia e Pernambuco que têm assolado a ferro e fogo preciosas matas... que tanto abundavam e já hojeficam a distâncias consideráveis, etc”.


Trecho do Capítulo V, da primeira parte
de “Os Sertões”.

2 comentários:

fatimapombophotos disse...

muito bom!

helentry disse...

Quantos crimes poderiam ser evitados contra a mãe Terra se não houvesse tanta ambição humana, tanta ignorância! Deveríamos criar leis mais severas!
Victor Hugo foi outro escritor com preocupações ecológicas.Fiquei encantada quando li sobre isto.
Reafirmo, tivesse lido seu blog antes, já estaria tb embrenhada em Os Sertões!