segunda-feira, 30 de abril de 2007

Da série: Correspondência secreta!!!

Hildinha, a carta para você já estava escrita, mas aconteceu agora de noite um negócio tão genial que vou escrever mais um pouco. Depois que escrevi para você fui ler o jornal de hoje: havia uma notícia dizendo que Clarice Lispector estaria autografando seus livros numa livraria, à noite. Jantei e saí ventando. Cheguei lá timidíssimo, lógico. Vi uma mulher linda e estranhíssima num canto, toda de preto, com um clima de tristeza e santidade ao mesmo tempo, absolutamente incrível. Era a Clarice. (...) Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto. Acho que mesmo que ela não fosse Clarice Lispector eu sentiria a mesma coisa. Por incrível que pareça, voltei de lá com febre e taquicardia. Vê que estranho. Sinto que as coisas vão mudar radicalmente para mim - teu livro e Clarice Lispector num mesmo dia são, fora de dúvida, um presságio. Fico por aqui, já é muito tarde.
"Um grande beijo do teu Caio"

Trecho de uma carta de Caio Fernando Abreu para Hilda Hist.

sábado, 28 de abril de 2007

Pios agourentos da corujinha: sinais dos tempos!...


As crianças costumam passar horas sentadas diante de seus computadores. Por isso, uma universidade canadense decidiu apresentar as obras de Shakespeare a elas por meio de um game. Enquanto detonam espaçonaves inimigas com armas de raios, os jogadores precisam ajudar a recuperar o texto roubado de 'Romeu e Julieta', decorando versos da famosa peça, aprendendo fatos sobre a vida de Shakespeare e propondo sinônimos e homônimos para trechos do texto. "Não conheço outra mídia capaz de convencer crianças e adolescentes a recitar Shakespeare", disse o professor Daniel Fischlin, que comandou a equipe responsável pelo desenvolvimento do jogo, chamado 'Speare', na University de Guelph, em Ontário.
"Com seu ritmo de cartum, uma temporada clássica dos Simpsons tem mais idéias espalhadas por um amplo espectro cultural do que qualquer romance escrito no mesmo ano. A velocidade, a densidade de informação, o leque de referências; a quantidade, a qualidade e a rica humanidade das piadas – tudo isso faz praticamente qualquer romance contemporâneo parecer lento, sorumbático, monótono e quase totalmente vazio de idéias!..." Quem disse isso foi o crítico e ensaista Julian Gough, para revista inglesa “Prospect”. Gough critica o predomínio da escola trágica e circunspecta sobre a cômica e irreverente na ficção ocidental esteticamente ambiciosa, sobretudo a contemporânea. Se uma defesa tão apaixonada dos Simpsons faz de mim um bárbaro, brinca, melhor ainda, porque o romance “literário” de hoje, como romanos da fase decadente do império, “precisa dos bárbaros, anseia secretamente por eles”.
Como se pode ver a ruína cultural do ocidente é iminente. Podem me chamar de apocalíptico, mas uma nova idade das trevas está começando, e só Deus sabe quando teremos outra Renascença!... Xô coruja, xô coruja!

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Advinha o que eu ganhei?


Agora não falta mais nenhum!... Depois é que verei o filme.

Um historiador do futuro ou um profeta do passado?


Esse figura bochechuda que vemos aqui ao lado, é uma caricatura simpática do maior historiador do mundo, e um dos principais escritores da língua inglesa. Nascido no dia 27 de abril de 1737, numa época em que pesquisar e escrever história era quase como seguir as pegadas de um fantasma, Edward Gibbon realizou a proeza de investigar e narrar majestosamente toda a trajetória do Império Romano, desde os tempos dos primeiros e "virtuosos" imperadores até a queda do império do oriente, quando Constantinópla morreu e a América nasceu! - e tudo isso com minúncias.
Gibbon era tão culto quanto rico, e quando decidiu escrever a obra máxima da historiografia mundial - Declínio e Queda do Império Romano - ele não poupou um tostão em viagens e na compra de documentos raros. Resultado: seis tomos da mais detalhada, elegante e profunda pesquisa que alguém já escreveu. Digo elegante, porque nunca um historiador se preocupou em apresentar suas teses com tanto estilo e poesia. Foi por causa dessa preocupação que Gibbon hoje figura ao lado de Shakespeare como um dos nomes mais altos da língua inglesa.
Mas além de elegante, ele é ainda generoso, e nos mostra não apenas a Roma civilizada e moribunda do começo da nossa era, mas também a infância da Europa bárbara que conhecemos como Idade Média. Vemos o surto do papado para a realização do maior sonho platônico: o rei-sacerdote; e o maior sonho do catecismo ocidental: uma civilização cristã. Numa página assistimos a coroação de Carlos Magno, em outra vemos Maomé e seus generais, chefiando exércitos famintos de pilhagem e bêbados de fé, derramarem-se sobra a África e Espanha, construírem a civilização de Bagdá e Córdoba e por fim recuarem para o deserto, quando os bárbaros turcos rolaram do Cáucaso sobre o império ocidental em desordem. Quer saber da vida íntima de algum imperador? Gibbon conta. Quer descobrir a origem das tribos germânicas? Gibbon diz. Quer ver como se formou a hierarquia da Igreja? Gibbon mostra. E mostra, e diz, e conta como se uma lady sofisticada e fofoqueira estivesse fazendo futricas acerca de suas conhecidas. Gibbon tinha tanto pendor para o lado picante da história que alguns críticos chegaram a dizer que ele viveu a maior parte de sua vida sexual nas notas de rodapé! Mas isso é justamente o tempero com que o historiador nos prende ao longo das 3 mil páginas em que narra 1400 anos de história.
Para mim a leitura de Gibbon é imprescindível em nossa época decadente, quando mais uma vez a cultura ocidental (arte, música, literatura, religião, filosofia) está a beira da falência, e os bárbaros estão novamente à porta. Como um profeta, que pelas ruínas do passado antevê uma queda futura, Gibbon é mais atual do que nunca, e sua obra nos alerta para a responsabilidade que temos de não deixar a história se repetir.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Terror que inspira arte que inspira vergonha

Si se pudiera rescatar

un solo retrato del siglo veinte

sería "Guernica".

No se divisan los aviones,

no se ve caer las bombas

no se escucha el estruendo de los bombardeos;

pero el dolor crece como una ola

y el hombre que yace con la espada rota

y la madre con el hijo muerto entre los brazos

nos recuerdan que desde hace milenios

han pretendido apagar con fuego

la sed del pueblo.

Fernando Lamberg
70 anos do massacre no País Basco.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Estranhas Coincidências

Não existe outra data mais auspiciosa para a literatura do que o dia 23 de abril - que, não por acaso, é o dia do livro. Foi exatamente nesta data que os dois maiores nomes da literatura ocidental, Cervantes e Shakespeare, faleceram. Todos os anos, durante as comemorações do dia do livro, alguém se depara pasmado com essa feliz e estranha coincidência.







Na verdade, foi a mesma data, mas não o mesmo dia. Explico. Cervantes morreu em 23 de abril de 1616 do calendário que agora temos, ou seja, o Gregoriano. Chama-se assim porque, em 1582, uma comissão pontifícia auspiciada pelo papa Gregório XIII o reformou conforme cálculos astronômicos corretos. A reforma consistiu em adiantar de golpe 10 dias que se haviam “perdido” por erros do calendário anterior. E tal reforma, precisa e científica, foi adotada imediatamente por Espanha, Itália e Portugal. A Inglaterra, porém, não a adotou até 1752, quando o erro era já de 11 dias. Dessa forma, para os ingleses o 02 de setembro de 1752 passou a ser o 13 de setembro. Assim, pois, Shakespeare morreu em 23 de abril de 1616, mas esse dia era realmente o dia 03 de maio. Logo, Cervantes e Shakespeare morrem na mesma data, mas não no mesmo dia.
Não obstante, desde logo, é uma espantosa coincidência, que se junta às muitas outras ocorridas na trajetória dos dois. A genialidade de ambos, e o fato de terem vivido numa mesma época, são as fontes naturais desses paralelos. A estatura colossal de Cervantes é normalmente comparada à grandeza de Shakespeare - embora nunca tenham se conhecido pessoalmente. 1605 foi o ano em que publicou-se o Dom Quixote, mas também Otelo, Macbet e o Rei Lear. Shakespeare, evidentemente, leu Quixote, mas é bastante improvável que Cervantes soubesse da existência de Shakespeare. A Imaginação evoca contente a imagem do grande bardo na solidão de sua casa em Stratford, para a qual se retirou três anos antes de sua morte, lendo o célebre romance que já havia sido traduzido para o inglês por Thomas Shelton.
Que cena para o leitor que, como eu, é fã de ambos: Shakespeare lendo Dom Quixote.
Dizem que não sobreviveu Cardenio, peça escrita por Shakespeare, com a colaboração de John Fletcher, após essa leitura do Dom Quixote. Pela Primeira vez, Shakespeare se deparava com um rival igualmente poderoso, capaz de superá-lo. Todavia o duelo nunca aconteceu, pois ainda não havia Shakespeare em espanhol.
Em todo caso, vamos evitar comparações. Cervantes, suponho eu, não gostaria de ser coparado a Shakespeare ou a quem quer que fosse. Dom Quixote diz que todas as comparações são odiosas.
Mas nada nos impede de admirar a história desses dois famosos gênios, e seus filhos loucos - Quixote e Hamlet - cujo recado implícito, em ambos, é o de que para endireitar as coisa do mundo é preciso ser-se um tanto maluco, e dotado com uma boa dose de desatino.


O mundo está fora dos eixos. Oh! Maldita sorte! ...Por que nasci para colocá-lo em ordem!..." - Hamlet, I,V"

..é o meu ofício e exercício andar pelo mundo endireitando tortos, e desfazendo agravos" - D.Quixote, XIX

São Jorge, as rosas e os livros


O "Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor" é comemorado, desde 1996 e por decisão da UNESCO, a 23 de Abril, dia de São Jorge. Esta data foi escolhida para honrar a velha tradição catalã segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas UMA ROSA VERMELHA DE SÃO JORGE (Saint Jordi) e recebem em troca, UM LIVRO. Em simultâneo, é prestada homenagem à obra de dois grandes escritores, Shakespeare e Cervantes, falecidos em 1616, supostamente a 23 de Abril. Partilhar livros e flores é prolongar uma longa cadeia de alegria e cultura, de saber e paixão.
Salve Jorge!

O Caçador de Borboletas


Quando o pequeno Vlad nasceu, no dia 23 de abril de 1899, ninguém, obviamente, imaginava que ele seria o grande escritor de duas línguas.
Vladimir Vladimorovich Nabokov, ou simplesmente Vladimir Nabokov, começou cedo escrevendo poemas e contos em russo, língua natal, cuja literatura ele amou e se orgulhou a vida toda, e na qual queria se firmar. Mas, bem sabemos, nem tudo sai como a gente quer. Depois da fuga de sua pátria; do pai assassinado por fascistas em Berlim; da morte do irmão mais novo num campo de concentração nazista, sob acusação de espionagem; da noiva abandonada em São Petersburgo; dos exílios em Berlim, Paris, Eua, e Suíça; da ocultação da identidade em várias obras escritas como pseudônimo de Sirin; depois de tudo isso, Nabokov resolveu trocar de língua e nacionalidade, e em 1950 passou a escrever em inglês - idoma através do qual, felizmente, pôde dar expressão ao seu gênio. Em inglês ele escrevu dois grandes romances: Lolita, seu maior sucesso, e Fogo Pálido, sua obra-prima. Contudo, parece que jamais se orgulhou disso.
Como professor de literatura, entediava de morte seus alunos - detestava quase todos os grandes nomes da literatura mundial que não fosse russos, e traduzia esse ódio reduzindo, por exemplo, a Metamorfose de Káfka ao estudo da anatomia de um inseto, ou Orgulho e Preconceito de Jane Austen a um folhetim ridículo! - Gogol faria melhor, dizia ele com insolência.
Era rabugento e desagradável, a não ser com as borboletas (sua grande paixão). Nos meios literários americanos, tinha fama de esquisitão ou misantropo. E insistia na solidão: sentia-se verdadeiramente feliz, preferia reservar seus momentos para estudar suas borboletas (cujo vôo comparava à arte de escrever), jogar xadrêz, traduzir Pushkin e Lermontov. Nunca teve vergonha de admitir a dificuldade falar em público: "Penso como gênio, escrevo com arte, mas falo como menino."
O ano em que mudou de língua foi também o ano que casou com Vera Slonim - a mulher que lia seus manuscritos e que, um dia, impediu que os primeiros capítulos de Lolita fossem destruídos. Dizem que Nabokov preparava-se para queimar, no jardim de sua casa, os manuscritos do romance. Parece que já pressentia os dissabores que o enredo lhe traria. Como de fato trouxeram: de um lado, alguns leitores se deixavam embalar na vertigem e no delírio de Humbert Humbert, oscilando entre a compaixão e o assombro; do outro, erguia-se o asco, a insistência em rotular o livro de pornográfico, e a perseguição moralista daqueles que chamavam a Nabokov, então com 56 anos, um autor obsceno. Essa gente não percebia que ele, de forma magistral e simples (como as borboletas), retratava a dor da infância perdida, a paixão proibida, a crueldade de amar e sentir esse amor como um pecado e um drama terrível, a tragédia que é a inexorabilidade do tempo.
Para mim, "Lolita" é um confissão. A trágica confissão de um amor que aniquila. E Nabokov tanto é Humbert, em sua loucura e arrogância, com é Lolita, em sua entrega e abandono diante dos abusos da vida.

As ninfetas também lêem...


E você?

domingo, 22 de abril de 2007

O Inventor do Romance Inglês


Filho de uma família aristocrática, da qual não herdou títulos nem bens, Henry Fielding nasceu em 22 de abril de 1707, há exatos 300 anos. Tempo suficiente para qualquer pessoa ser esquecida, mesmo que seja o inventor do romance inglês.
É uma pena constatar, mas o a obra de Fielding parece fazer parte da lista dos clássicos com prazo de validade!... A culpa não é dele, óbvio, mas da nova idade das trevas em que vivemos.
Autor de inúmeras peças e novelas, Fielding tem como obra principal o Tom Jones, a História de um Enjeitado, considerado por muitos como o romance que, por asssim dizer, inaugurou o gênero na língua inglesa. O livro conta a trajetória de um jovem exuberante de energia, ingênuo e violento, que envolve-se em tramas amorosas sem conta, despedaça corações, ajuda pessoas em dificuldades e, por fim, é acusado por um crime. Dizem que o enredo é profundamente auto-biográfico, já que em quase tudo, salvo o do final, retrata a história do prórpio Fielding.
Por ter um humor picaresco e muitas cenas de ação, o romance foi comparado a Dom Quixote, e, segundo testemunhos contemporâneos, foi também o motivo de duas das últimas gargalhadas que o amargo e genial satirista Jonathan Swift deu no fim da vida, o que serve de medida para os poderes cômicos de Fielding.
Na época o livro causou bastante escândalo, tendo sido considerado um estímulo à licenciosidade. Diziam que o amoralismo de Tom Jones desencorajava o exercício da virtude e, de certa forma, aconselhava o vício. Na França chegou a ser proibido.
Mas o fato é que o conceito moral de Fielding não poderia ser compreendido em seu tempo. Tom Jones é apenas um apaixonado pela vida, corajoso e bom, mas fraco e indisciplinado - um pequeno selvagem.
Henry Fielding defendeu-se dizendo que em sua obra retratava o homem com ele de fato é, com seus defeitos e virtudes; ao contrário de outros que ridiculamente o idealizam. Essa indireta era para Richardson, o mais meloso e querido romancista inglês, e arquirival de Fielding.
O romance foi levado ao cinema em 1963, tendo Albert Finney no papel homônimo, e das oito indicações que recebeu para o Oscar, levou quatro: melhor roteiro adaptado, melhor diretor, melhor música e, claro, melhor filme!
Na era das telas, talvez, a única salvação para a obra clássica de Fielding seja um ramake. Poucos são os que se interessam, e raros os que lêem. Aqui na biblioteca o livro vive encalhado.
Quando ainda era adolescente, Fielding não soube que carreira seguir, e hesitava entre ser escritor e cocheiro! Segundo ele, a primeira seria mais agradável mais cômoda; a segunda, porém, renderia mais dinheiro e consideração social.
Ao morrer, em Lisboa, para onde tinha se mudado por motivos de saúde, ele sentia-se um profundo desencanto com sua carreira, e achava que sua obra logo seria esquecida. Por trezento anos esteve enganado. Contudo, creio que agora já não se pode discordar.

O Google e o aquecimento global

April, 22 - The Earth Day

sábado, 21 de abril de 2007

Cantares do Sem Nome e de Partidas


Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser abelhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.



Hilda Hilst

A Obscena Senhora H.


Nascida no dia 21 de abril de 1930, Hilda Hilst veio ao mundo para atear fogo na literatura, e vigiaria para que queimasse. Uns a consideram marginal, outros louca, outros pop. Rótulos que se despegam fácil quando a lemos com atenção. Hilda Hilst além de culta, desbocada, falante, divertida, bem-nascida, era simplesmente uma mulher incomum, do tipo que impressiona à primeira vista, e às vezes espanta. A condição básica da minha aceitação em relação a ela, foi a sensação de uma qualidade excepcional.
Suas obras são de uma intensidade incômoda: performáticas, escandalosas, brutais. Sua prosa é de legibilidade difícil, tem algo de Joyce - assim como sua poesia, que parece uma inusitada mistura de São João da Cruz com Jorge de Lima.
Coisa que não se encontra em qualquer lugar.
Embora tenha se afastado do mainstream da literatura brasileira, sempre muito comportado, Hilda visitou todos os gêneros, e não raro tentou fundi-los num só. Claro que isso nem sempre deu certo. Mas ela era assim, tomava caminhos que todo mundo estranhava. A crítica se dividia: uns diziam que ela era ótima companhia para o ônibus, o metrô ou a fila do banco, sobretudo nos ares estressantes da metrópole – ou seja, sua leitura não exigia concentração! Outros diziam o contrário, que ela era hermética, confusa, demasiado experimental e vulgar. Blá, blá, blá...
Tais críticas não seriam um problema tão grande, se por trás delas não houvesse uma imensa preguiça e incompetência de ler. Seus defeitos, se assim quisermos chamá-los, decorrem do seu misticismo visionário, da necessidade urgente de transcender. Eu creio que Hilda foi vítima da própria exuberância espiritual.

A literatura tem a obrigação de expandir o universo moral de qualquer pessoa e ela fez isso: enfrentou a moralidade social, o que é o máximo. É importante que a literatura de um país tenha inovadores como ela, principalmente numa literatura que muda tão pouco. Quanto mais velha, mais louca e melhor ela ficava.

Nossa língua portuguesa




quinta-feira, 19 de abril de 2007

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa
Não examinava nem cheirava,
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão
Não era um gato
E tampouco um rato

O bicho, meu Deus, era um homem.

(Manuel Bandeira)




Bandeira de simplicidade


Manuel Bandeira nasceu sob o signo da doença, no dia 19 de abril de 1886.
O poeta que esteve sozinho no front do modernismo, preparando o caminho da semana de arte (da qual não participou), disse uma vez que sua poesia era uma efeito colateral da tuberculose: "Pertenço à fase heróica da tuberculose. Foi através dela que construí minha poesia. Não fiz versos por ser poeta".
Não é exagero. Por causa da doença sempre esteve no lugar certo e na hora certa, conheceu tudo e todos, e por tudo e todos foi reconhecido. Ainda muito jovem, e já doente, ele foi viver num sanatório na Suíça, como o da Montanha Mágica de Mann, e lá tornou-se amigo do poeta Paul Éluard e de Gala, mulher de Salvador Dali. É por incentivo de ambos que escreve As Cinzas das Horas, e inaugura uma das mais belas carreiras poéticas do Brasil.
Exigente em sua obra, e ainda assim um dos poetas mais populares do século XX, com uma série de poemas obrigatórios em antologias e recitais, Bandeira é o poeta da ternura humilde e ao mesmo tempo sofisticada, do amor, da vida, das pequenas coisas de todo dia. Sabia humanizar os objetos mais prosaicos: a Balada das três mulheres do sabonete araxá, por exemplo, ele escreveu quando um dia entrou numa venda e viu o cartaz do tal sabonete.
Era sempre assim, Bandeira tirava poemas de tudo o que via, de notícias de jornal, de coisas ouvidas na rua, de incidentes domésticos. Daí o timbre inconfundível de sua obra: ao mesmo tempo contida e escandalosa, erudita e popular, picaresca e séria, leve e trágica.
E era tão bom poeta quanto tradutor - para o português ele verteu Shakespeare, Omar Kayhan, Morris West, Emily Dickinson, Santa Edith Stein, Jean Cocteau, John Ford e Elizabeth Bishop, de quem se tornou amigo. Dizem que tinha uma das bibliotecas mais invejáveis do Brasil.
Como decano do modernismo, inspirou profundamente Carlos Drummond de Andrade e o primo João Cabral de Melo Neto, com os quais comporia a santíssima trindade da poesia brasileira. Um ano antes de morrer ficou sabendo que na França havia sido editado, pela Pierre Seghers, na coleção "Poètes d'Aujourd'hui", o volume Manuel Bandeira, com estudo, seleção de textos, tradução e bibliografia de Michel Simon.
De Bandeira, Simon disse: Soube atingir a verdadeira simplicidade - a simplicidade dos que domam o complexo com passes de magia.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Coisa de gente pequena

Eu não fui um leitor precoce, não tive infância literária. Pedante, como todo adolescente metido a literato, não quis perder tempo com "bobagens"! Queria livro sério, denso, grosso, de letras miúdas e sem figuras!... Nessa época eu não tinha o dom de distinguir, não percebia que era no encontro com qualquer forma de texto que se têm a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer nossa própria experiência intelectual. Hoje corro em busca do tempo perdido - que felizmente sei onde achar.
Semanalmente, aqui na biblioteca, fazemos sessões de leituras para crianças em idade escolar; e são nessas ocasiões que eu, tanto quanto as crianças, descubro o Maravilhoso de todas essas fábulas, que ocorrem fora do nosso entendimento, de nossa dicotomia estreita de espaço tempo. Antes eu pensava que a fantasia, em dado tempo, havia se ausentado da literatura, e essa ausência fora preenchida por um releitura limitada de temas. Era tudo tão frio, real, cínico.
Sobreveio então a descoberta das fábulas, que devem ser entendidas como literatura séria - ainda que fantástica - e não como um simples capítulo de pedagogia. Essa literatura não é didática para ser explicada. Atua diretamente no espírito da criança, onde para sempre ficará guardada, por assim dizer. Procuro ter isso em mente quando folheio essas coisinhas.
Nascida no mundo antigo, do folclore, das fábula, das lendas, rapsódias, gestas e cantigas de roda, essa literatura irradiou concomitantemente da Índia e da Grécia. Depois das traduções latinas de Esopo e de Fedro, das Mil e Uma Noites e dos Mil Dias, vários fabulistas despontaram no ocidente. O grande livro medieval no gênero é a epopéia animal, uma Ilíada bárbara, cujos personagens são bichos - quer domésticos ou selvagens.
Na renascença o gênero se estabelece com Fenelon, bispo de Cambrai, e as suas raposas, gansos, asnos, besouros, sapos, porcos, pássaros e morcegos falantes. Também por essa época, da Itália, vem Basile, pai de Rapunzel, da bela adormecida, do gato de botas e de todas as bruxas encarquilhadas, narigudas e más. Um século depois surgem Carlo Collodi, para dar vida a Pinocchio, e o francês Charles Perrault para contar as sinas de Cinderela e Branca de Neve nas Lendas da Carochinha . Passa-se mais um século e os irmãos Grymm decidem reunir tudo numa coletânea de Contos de Fadas, aos quais acrescentam os dilemas infantis de João e Maria e Chapeuzinho Vermelho, entre outros.
Da Dinamarca Hans Christian Andersen nos traz a Pequena Sereia, o Patinho Feio e o Soldadinho de Chumbo, para completar a lista dos clássicos eternos.
Mas a grande ironia desse gênero é também estar constituído de livros originalmente escritos para adultos, que todavia alcançaram seu maior sucesso nas mãos inquietas e despreocupadas de crianças e adolescentes. Sátiras políticas, ficção científica, utopias, denúncias e crônicas sociais como Moby Dick, Robinson Crusoé, Vinte Mil Léguas Submarinas, As Aventuras de Huckberry Finn e As Viagens de Gulliver, caem misteriosamente no gosto da garotada, e ninguém as pode resgatar. Outro caso à parte é a genial criação de Lewis Carrol, a enigmática Alice no País das Maravilhas, cujo ludismo verbal e estilo nonsense caracterizam uma charada acerca dos propósitos do enredo.
No século XX, depois do fascinante Livro da Selva, de Kipling, do Mágico de Oz, de Frank Baum, e do Pequeno Príncipe de Saint-Exupéry, a literatura infantil se torna épica no Senhor do Anéis e nas Crônicas de Nárnia. E assim permance até reencontrar sua simplicidade e tornar-se febre com o Harry Porter.
Em Zalina Rolim, Presciliana Duarte, Francisca Júlia e Olavo Bilac, encontram-se vozes pioneiras da poesia infantil no Brasil. Mas o gênenro só iria se realizar integralmente com o surgimento de Monteiro Lobato, que o definiu dando-lhe independência e verdadeiras obras-primas. Sem esquecer, claro, a imensa contribuição de Maria Clara Machado com seu teatro infantil, que é nitidamente um fenômeno moderno.
Enfim, depois de toda essa retrospectiva, muito loooonga, eu chego a conclusão de que uma crítica justa da literatura infantil só poderia ser feita pelas próprias crianças; porque os adultos ou a sentem no plano da literatura geral ou no terreno pedagógico. Falta-lhes aquela ingenuidade, irrecuperável na vida, através da qual vêem coisas no mistério que ainda não foi revelado - ao menos nas suas aparências.

Portanto, já que não somos críticos capazes, devemos nos limitar a ler, e ler em voz alta.


O Dono do Sítio


Monteiro Lobato conquista leitores desde que começam a ler, e conquista-os com graça e estilo. Sua estréia na literatura foi retumbante: Urupês foi citado por Rui Barbosa, que chamou atenção para a personagem Jeca Tatu - arquétipo do brasileiro esquecido em seu atraso e miséria.
Sua arte de narrar filia-se a linha tradicional: enredos cativantes, com princípio, meio e fim. Histórias que se possa contar e que interesse ao ouvinte. Mestres: Maupassant e Kipling, segundo confissão do próprio. Dessa inclinação e preferência, dizem os críticos, nasceu as fraquezas de sua ficção; a saber: superficialidade, predomínio do exterior, do episódico ou anedótico. Em vão procuraremos revelações da alma humana, conflitos, mistérios. Tudo escasso.
Mas não se pode negar-lhe arte técinica no gênero, ele sabe armar situações, manejar a narrativa. Neste sentido, sua linguagem merece uma referência à parte: Monteiro Lobato que era também desenhista ocasional e sonhava em ser pintor, acabou desenhando e pintando com palavras. Daí o gosto pelas descrições e retratos, o senso das proporções e o colorido.
Acrescente-se a isso certo rebuscamento, certo purismo na escrito - talvez um complexo decorrente de uma reprovação em gramática, na época em que fazia o curso secundário. Rebuscamento que até hoje provoca restrições críticas ao mérito estritamente literário de sua obra.
Este mérito é contudo inegável pelo estilo vigoroso e pessoalíssimo, por muitas páginas verdadeiramente antológicas e, sobretudo, pelos textos infantis, que são os mais importante em língua portuguesa. Afinal ninguém tem um sítio tão fascinante e lúdico quanto o de Lobato.

A criatura foge ao criador...


“Ela nasceu de uma saia velha da tia Anastácia. E nasceu vazia... Foi enchida de macela e ficou no mundo feito uma boba, de olhos parados como qualquer boneca. Feia. Dizem que era feia que nem uma bruxa. Seus olhos Tia Anastácia os fez de linha preta.”
“ Veio a boneca. O doutor escolheu uma pílula falante e pôs-lhe na boca – Engula de uma vez! Disse Narizinho ensinando à Emília como se engole pílula. E não faça tanta careta que arrebenta o outro olho.
Emília engoliu a pílula muito bem engolida, e começou a falar no mesmo instante. A primeira coisa que disse foi: Estou com um horrível gosto de sapo na boca. E falou, falou, falou e falou. Falou tanto que Narizinho , atordoada, disse ao Doutor que era melhor fazê-la vomitar aquela pílula e engolir outra mais fraca.
Não é preciso – explicou o grande médico. Ela que fale até cansar! Depois de algumas horas de falação, sossega e fica como toda gente .
Isso é fala recolhida que tem de ser botada para fora.
E assim foi. Emília falou três horas sem tomar fôlego. Por fim calou-se”

terça-feira, 17 de abril de 2007

A corujinha me contou que...

O escritor peruano Mario Vargas Llosa está escrevendo um novo romance para encerrar a trilogia iniciada com "Elogio da Madrasta" (1988), e que continuou com "Os Cadernos de Don Rigoberto" (1997). O provável título será "As cartas de Dona Lucrecia" e, segundo o autor, o enredo também trará os mesmos personagens dos dois anteriores.


Acharam os restos de mortais de Quevedo, um dos principais expoentes da literatura barroca espanhola. Vocês certamente já ouviram falar dele nas aulas de literatura. Rival de Góngora, mestre do século de ouro, lembram? Então. Os responsáveis pela descoberta foram cientistas da Universidade de Madri, que puderam fazer identificação pela altura e idade do cadáver, e também por um desgaste no fêmur decorrente da manqueira do autor. O corpo estava sepultado na cripta do Mosteiro de Santo Domingo de Villanueva de los Infantes, onde provavelmente permanecerá.

E por falar em Quevedo, lembrei que a 36ª edição da (imperdível) feira de livros de Londres inciou-se ontem, e tem como tema central a Espanha, ou melhor, a moderna literatura espanhola. Se você for capital britânica esta semana, não deixe de conferir.

Um livro inacabado do escritor John Ronald Reuel Tolkien, autor da trilogia "O Senhor dos Anéis", concluído por seu filho, estará à venda a partir desta terça-feira em todo o mundo, informou a editora britânica HarperCollins.
J.R.R Tolkien iniciou "The Children of Hurin" em 1918, mas nunca terminou o livro. Seu terceiro filho, Christopher, levou quase 30 anos para reunir os esboços em uma história única, escrita totalmente com as palavras de seu pai. O enredo ocorre no mundo imaginário da Terra Média, mas muito antes dos eventos descritos em "O Senhor dos Anéis".
No romance, os hobbits ainda não tinham aparecido, embora elfos, anões e um espírito maligno que assume a forma de um dragão sem asas convivam na história.
Os fãs da obra de Tolkien irão reconhecer algumas passagens do livro, que já foram publicadas separadamente. Segundo Christopher Tolkien, o romance contém os mais extensos e recentes escritos do autor sobre a Terra Média. A capa e os desenhos contidos no volume de 320 páginas são de Alan Lee, o ilustrador de "O Senhor dos Anéis" e "O Hobbit".
Christopher Tolkien já havia editado "O Silmarillion", outro trabalho inacabado de seu pai, em 1977. Ele resume a mitologia da Terra Média e inclui contos individuais, inclusive o de "The Children of Hurin".
A partir desta terça-feira, a edição inglesa do livro estará disponível em todo o mundo. A HarperCollins já anunciou que planeja traduzi-lo para 25 idiomas.

A Baronesa das Letras


A África subsahariana entrou no imaginário do romance moderno na época colonial, mas foi especialmente com as obras da escritora Karen Blixen que o imginário deu lugar à realidade. Nascida no finalzinho dessa época, mas precisamente no dia 17 de abril, ela despontou como a única mediadora perfeitamente credível do mundo africano, pois viveu lá, e inaugurou um estilo próprio que inspiraria grandes nomes, como Ernest Heminway.
Usando a linguagem do modernismo europeu autobiográfico, a escrita de Karen Blixen não é crítica nem cúmplice, mas um produto representativo da contemplação intuitiva, típica do intelectual ocidental dos anos 30. A mistura do esteticismo analítico com o sensualismo realista faz uma leitura emocionante do real africano, ao mesmo tempo concreta e sensitiva.
Mas nem só de aventuras africanas contitui-se a obra de Blixen. Sendo uma contista de mão cheia, ela ficou conhecida como a Scheherazade nórdica, e como tal foi intronizada entre Virginia Woolf e Katherine Mansfield como umas das grandes mestras da narrativa curta.
E para nossa sorte, a maravilhosa editora CosacNaify publicou recentemente a coletânea "Anedotas do Destino", um livro mágico, onde ela mistura lendas nórdicas e Shakespeare, a Bíblia e o Corão, a Escandinávia, a Pérsia e a China, mostrando todo o poder e beleza de sua narrativa.

Simplesmente indispensável.

“Todas as tristezas podem ser suportáveis se se contar uma história sobre elas.”


Karen Blixen

segunda-feira, 16 de abril de 2007

O Bibliotecário do mês


Quando ele nasceu, em 16 de abril de 1844, já era um velho, e só depois, já em idade muito avançada, tornou-se menino. Estou falando de Anatole France, não de Fernando Sabino.
Aos quarenta e cinco anos - idade em que Spinoza morria e Nietzsche enlouquecia - Anatole France rejuvenesceu. E até hoje ninguém sabe explicar como ou porque, aquele obscuro coletor de brochuras, sempre mergulhado no pó das bibliotecas, tornou-se o último representante do século de ouro da literatura, o selo dos antigos romancistas.
O riso escandaloso de Rabelais, Montaigne, Voltaire, Balzac e Flaubert ecoaram pela última vez em seus livros. Depois dele iniciou-se outra época, nossa época, cujo primogênito era Proust. Esqueceram France.
Não obstante, France escreveu melhor do que qualquer francês moderno. Se alguém duvida, que então leia Thais, belíssimo romance histórico e filosófico. Nunca na literatura francesa observou-se mais delicado equilíbrio entre a sutileza do pensamento e a transparência da frase; o leitor às vezes esquece que tem em mãos uma filosofia romanceada, porque a filosofia usualmente não se veste com tanta arte. E essa imperceptível união entre o assunto e a forma, esse casamento da sabedoria com a beleza, constitui a suprema realização de Anatole France.
Sua alma era grande o suficiente para conhecer a bondade, a verdade e a beleza; e sua arte sabia exibi-las no esplendor da unidade. Anatole, além de bibliotecário, foi um grande artista.

Lisa Simpson também frequenta bibliotecas...


E você?

Objetos de desejo...


Texto e Imagem

Shah Muhammad, o livreiro-biliotecário de Cabul, perdeu a conta de quantas vezes teve que colocar tiras de papel sobre ilustrações de livros durante o reinado iconoclasta do Talibã. Lembrei-me disso ontem quando percebi que era o dia do ilustrador.
Sempre achei a iconoclastia uma das mais estúpida supestições humanas. Para mim é um despropósito, uma falta de consideração com a arte. E nem gosto de me imaginar nas circunstâncias do meu colega afegão. Não obstante, volta e meia, acabo esbarrando em pseudo-intelectuais que são aspirantes a talibãs.

Outro dia, aqui na biblioteca, um cara ficou horrorizado porque eu disse que tinha comprado uma edição do Paraíso Perdido (de Milton) ilustrada por Gustave Doré - o mais clássico dos ilustradores!... Por meia hora tive que aturá-lo dizendo que o texto, por si só, permite várias leituras, desperta diferentes concepções, e que a ilustração desvirtua cenas que, se apenas lidas, são ricas em significados, e blá,blá,blá!... Naturalmente, contestei tentando fazê-lo compreender que a soma de texto e imagem amplia o universo de significações de um livro. É uma forma de apurar a sensibilidade do leitor, de oferecer uma perspectiva fiel da realidade descrita. Sem falar que também é um meio de educar gostos estéticos (sobretudo nesta era das telas). Uma pessoa de roupa suja e maltrapilha na Pérsia do século X pode significar algo completamente diferente nos dias atuais. Como eram as casas de lá e as carroças? Neste caso a ilustração pode entrar numa simbiose ainda maior com o texto e situar adequadamente o leitor moderno.
Porém, como e impossível argumentar com radicais, acabei gastando meu latim em vão. O cara não se convenceu.
Azar o dele, aprendi que mau gosto não se discute, lamenta-se. E jamais vou dispensar um livro com figuras.

domingo, 15 de abril de 2007

Mr. Elite


Confesso que sou profuso, falo pelos cotevelos, e quando se trata de definir Hanry James me perco em digressões. A culpa não é minha, eu gostaria de ser breve, mas o talento de James não cabe numa frase, nem mesmo num parágrafo. E como hoje é o dia do seu aniversário, dou-lhe toda minha atenção.
Ele foi o melhor artista americano da prosa em ficção, só comparável a Proust e Mann em orginalidade e visão. Mas se Proust, Mann, Joyce ou Kafka nos oferecem, através de suas visões de mundo, um espetáculo meticuloso, único e deslumbrante; Henry James, bem mais que uma visão, é capaz de oferecer uma forma de ver. Foi ele quem inventou a técinca da narração indireta, onde os acontecimentos são relatados por vários personagens, sob pontos de vista diferentes de cada um, de modo que o enredo se torna nosso: em vez de vermos o que nos permitem, com James podemos ver o que queremos — em vez de conhecermos um enredo, com Henry James ganhamos uma percepção. É uma dádiva generosa — o modo como percebemos as coisas, os outros e nós mesmos acaba profundamente alterado.
Fino, elitista, quase blasé, ele deixou uma obra que é sofisticada demais para se contentar com o meramente cínico, e exigente demais para se limitar ao puramente estratégico. James evitava ser simples, popular, e por isso sempre desprezou serenamente o curioso movimento literário do início do século que tentava desacreditar qualquer estilo levemente mais rebuscado aproximando a literatura do jornalismo. Ao invés disso, preferiu manter uma saudável distância das virtudes do despojamento; era mais que natural que nunca tivesse conseguido aceitar plenamente o estranho fascínio dos substantivos. “Advérbios e adjetivos são o sal e o açúcar da literatura”, chegou a comentar — e nunca escreveu uma linha que não fosse memorável por seu sabor.
Fútil? Pedante? Retrô? Engana-se quem pensa assim. Para nossa sorte, é impossível atravessar impunemente a literatura de H. James. Sua obra-prima é o romance "Os Embaixadores", mas os inicantes dvem começar pelo sinistríssimo "A Outra Volta do Parafuso", conto de terror psicológico que mataria Edgar Allan Poe de inveja. O climax do suspense é perfeito, não há sossego, a presença profusa de alusões, sugestões, obliqüidades e subentendidos tiram nosso fôlego. Leiam e pasmem!
Ler Henry James é deliciosamente humilhante.

sábado, 14 de abril de 2007

Duas épocas, um só texto


"Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos, era a idade da sabedoria, era a idade da insensatez, era a época da crença era a época da incredulidade, era a estação da Luz, era a estação das Trevas, era a primavera da Esperança, era o inverno do Desespero, tínhamos tudo diante de nós, nada tínhamos à nossa frente, estávamos indo direto para o Céu, marchávamos direto na direção oposta"


Charles Dickens - Um conto de duas cidades.

(198 anos, sendo lido e relido)

Nossa língua portuguesa

Bom fim de semana!

O Tesouro Inexplorado

Do mesmo modo que a miniatura persa, a literatura persa é quase desconhecida no Brasil, onde só o nome de Omar Khayam parece ter alcançado, embora através de traduções que o desvirtuam. O leitor de poesia continua a ter diante de si um tesouro inexplorado e, se tiver paciência e constância, se tiver coragem para acolher um sistema metafórico profundamente diferente do nosso, conhecera a mesma experiência que, há cento e oitenta anos, abalou e transformou Goethe: um território que lhe revelará uma face da poesia jamais entrevista, um poeta que sua veneração poderá colocar ao lado dos artistas supremos do ocidente.
Estou falando de "Nezam al-Din Abu Mohammad Elyas Ibn Yosouf Ibn Zaki Ibn Mo’ayyed Nezami Ganjavi", mais conhecido como Nezami Ganjavi, um dos maiores poetas persa. A bem da verdade, Nezami nasceu no Azerbaijão, mas quando era território persa. E embora não se possa afirmar com exatidão, seu aniversário é hoje, 14 de abril.
Quando a escrita árabe chegou à Pérsia, através do Islã, foi Nezami quem primeiro a empregou na criação de uma literatura melodiosa e brilhante. Como excelente artista da palavra, erudito e místico sufi, ele deixou uma obra inugulável onde se mistura fé e erotismo. E como observador atento e penetrante, demostrou grande talento na apresentação de situações emocionais.
Sua obra capital é vasta, mas seu gênio concentra-se em quatro grandes poema: "As sete Efigies", "Tesouro dos Mistérios", "O Livro de Alexandre" e "Laila e Majnun" (meu predileto). Este último é o relato de uma ausência, de um amor impossível que antecipa Romeu e Julieta em tempo e beleza.
Como também era profundamente religioso, Nezami gostava de compor orações, por isso frequentemente nos deparamos com preces em meio aos seus romances, cuja leitura é tão sublime quanto a dos salmos. Ouçamos:
"Se falasse cem línguas, louvar-te-ia em cada uma delas; Todavia tu sabes compreender a língua de quem não possui a palavra." (Laila e Majnun)
Nezami também venerava a palavra, era algo sagrado para ele:
"Aquilo que é novo e, ao mesmo tempo, antigo, é a palavra... A palavra - que é, como o espírito, imaculada - é a guardiã do cofre do reino invisível: ela conhece histórias nunca antes narradas e lê livros que jamais foram escritos!" (As sete efígies).
Como se vê, Nezami é um tesouro a ser descoberto.

Sessão da Tarde



Para ser um bibliotecário, deve-se conhecer profundamente o Sistema Decimal Dewey, ser especialista em Internet e, se formos o novo bibliotecário Flynn Carsen (Noah Wyle), ter de salvar o mundo! Pelo menos é o que ele faz no filme "The Librarian: Quest for the Spear" (O Bibliotecário, em busca da lança do destino!)



O Título é cafona e você certamente nunca ouviu falar desse Indiana Jones de segunda categoria, mas não se deixe enganar, muita comédia e aventura não faltam para deliciar os olhos. Adorei Noah Wyle, de quem sou fã desde do ER. Este filme infelizmente foi lançado diretamente para televisão ( tal foi a sequela de sua péssima estréia em 2006) perdendo assim muitos viewers pelo mundo fora. Felizmente os DVDs chegam sempre às nossas mãos para remediar o problema.

Altamente recomendado para um dia de chuva... de muita chuva!

Love Story


Quando se trata de histórias de amor, Brad Pitt e Angelina Jolie perdem de longe para Heathcliff e Catherine (de 'O Morro dos Ventos Uivantes'). O romance de Emily Bronte, escrito no início do século 19, lidera a lista das maiores histórias de amor de todos os tempos compilada pela Biblioteca Pública de Nova York.
'Anna Karenina', de Leo Tolstoy, ocupa o segundo lugar da lista, e o terceiro é de 'Romeu e Julieta', de Shakespeare. O filme 'Casablanca' é o quarto colocado na lista, e o quinto lugar é da peça 'Sonho de Uma Noite de Verão', também de Shakespeare.
Quando se trata de assuntos do coração, Bronte e outros escritores clássicos possuem sabedoria testada pelo tempo para compartilhar com seus leitores.
'Vá para o sofá com um desses livros, e você pode sair um pouco mais sábio e ter um encontro melhor na próxima semana, ou então ver o relacionamento em que você está avançar melhor', disse Carrie Sloan, editora chefe da revista Tango (www.tangomag.com), que publicou a lista.
'Em lugar de tentar aprender alguma coisa com o vexame mais recente de Britney (Spears), vale a pena ler filósofos e escritores que refletiram a fundo sobre o tema e cujas histórias resistiram ao teste do tempo.'
Completam as dez maiores histórias de amor, segundo a lista, 'Doutor Jivago', de Boris Pasternak, 'Razão e Sensibilidade', de Jane Austen, 'O Corcunda de Notre Dame', de Vitor Hugo, o filme 'As Ligações Perigosas' e 'Orgulho e Preconceito', de Jane Austen.
Sloan disse que muitas pessoas lêem sobre os dramas de celebridades em revistas semanais, mas que as histórias da lista desenvolvem a trama e os personagens.
'É algo mais profundo e mais refletido', disse ela.
Muitas pessoas já podem ter assistido às versões cinematográficas das histórias que constam da lista, mas um bibliotecário disse esperar que a lista renove o interesse do público pelas leituras clássicas -- e pelas bibliotecas.
'Se uma pessoa assistiu aos filmes baseados nos livros de Jane Austen ou em 'Romeu e Julieta', ela pode sentir vontade de conhecer a obra original', disse Robert Armitage, bibliotecário de ciências humanas da Biblioteca Pública de Nova York.

Era só o que faltava!!!

Sabem aqueles programas, inventados por americanos, que costumam "pimpar" os carros alheios, o "Pimp My Ride Car", que a MTV popularizou mundo a fora, e que o Luciano-marido da Angélica-Huck fez uma versão global? Sabem? Então.
Agora os americanos procuraram inovar e criaram o "Pimp My Bookcart"!!!
Segundo o Dicionário Oxford - que eu tenho aqui na biblioteca - "Pimp" tem dois significados: vulgarizar e enfeitar. A palavra não poderia ser mais adequada, e nesse caso os dois significados se complementam. Bookcart, para quem não sabe, são carrinhos que os bibliotecários costumam usar para facilitar o transporte dos livros. Eles não são muito comuns por aqui. Mais incomum, porém, são os bookcarts pimados, que não tem nada a ver com tunados...
Em outras línguas, o termo "pimp" tem significados aproximados, mas que não definem os fatos, e fotos, tão bem quanto a palavra inglesa. Por exemplo, em espanhol, "pimpante" significa vistoso, radiante; em francês seria algo como glamouroso, duas definições que absolutamente não se enquadram aqui...
Mas, como o povo americano sofre de uma carência de senso estético, e senso do ridículo, a moda pegou, e bibliotecários de todos os cantos da América pimparam seus bookcarts...
O resultado, como vocês podem constatar, é esse desfile de bookcarts alegóricos em estilo pimp-retrô-uhu-punk-glamouroso!
Tenham um bom dia!

sexta-feira, 13 de abril de 2007

O Santo do Absurdo


Numa data como esta, 13 de abril, nascia um dos maiores escritores da Irlanda - que todavia só queria saber de escrever em francês. Samuel Backett era assim mesmo, imprevisível, inconstante, mudava de língua e até de nome - muitas vezes assinava seus textos como Andrew Belis. Não viera para explicar, mas confudir. Contudo, e em tudo, sempre deixava transparecer seu gênio inconfundível.
Beckett começou na litertura muito jovem, aventurando-se em ensaios: "Dante... Bruno", "Vico... Joyce", e "Proust". Depois arriscou-se na poesia e escreveu "Whoroscope", um poema repleto de trocadilhos intraduzíveis e provocativos, a começar pelo título, que era uma junção das palavras "Whore" (prostituta) e "Horoscope" (horóscopo). Em seguida tentou alguns contos, como o "More Pricks than Kicks" (mais pontadas que patadas), outro trocadilho enigmático.
Daí então, talvez para não ser visto, ou rotulado como o rei dos trocadilhos, ele passou a se deidcar aos romances, e compôs "Murphy", depois a magnífica trilogia "Molloy", "Marlone morre" e "O Inominável" (que é o meu preferido). Estes romances constituem uma inovação marcante na prosa moderna, trazem um estilo telegráfico, de rítmo sinocpado que exprime, por si, o caráter fragmentário da consciência. Iria fazer escola.
Mas seria através da dramatúrgica que seu nome passaria à posteriadade. Suas peças de humor negro, surreais, desconcertantes, causaram tanto impacto que Beckett acabou sendo intronizado entre Eugène Ionesco e Arthur Adamov como um dos mestres-fundadores do teatro do absurdo. A peça que mais gosto é "Esperando Godot", onde ele coloca em cena dois velhos vagabundos que dialogam mecanicamente enquanto esperam um misterioso Godot, que nunca aparece. A quem diga que o nome Godot seja uma corruptela de God (Deus) .
O filósofo Cioran costumava definir Beckett como um "homem apartado", para mim ele era quase um santo. A persistência de uma gravidade "religiosa" em sua literatura, apesar da ausência de qualquer metafísica ou fé subjacente, confere à obra dele um páthos especial, quase sagrado.
É verdade que ele também errou na vida, e muito. Quando sua noiva, Lúcia, a filha de James Joyce, enlouqueceu, ele não pensou duas vezes antes de abandoná-la. Mas se arrependeu quando tempos depois foi esfaqueado por um ladrão em Paris, e viu seu ex-sogro vir em seu socorro, pagando as despesas do hospital.
A relação de Beckett e Joyce sempre foi de pai e filho, eles sabiam da importância um do outro, tanto que juntos formaram um ponto de culminância na tradição literária do ocidente, que até então permance inalcançado.

Ossos do ofício


Há alguns minutos atrás, aqui na biblioteca:

- Garoto (entre 15 e 17 anos): Por favor, você tem alguma coisa sobre "MaRcau"?
- Eu (costurando as páginas de um dicionário): Não seria Macau?
- Garoto (verificando no caderno): É, parece que é isso.
- Eu: Temos sim, mas o que você quer pesquisar especificamente?
- Garoto: Sei lá, vê se arranja aí uma biografia dele... Resumida!
*
*
*
Sinceramente, para o mundo que eu quero descer!

Kiss


You don't have to be beautiful

To turn me on

Just need your body, baby

From dusk till dawn

You don't need experience

To turn me out

You just leave it all up to me

I gonna show you what it's all about

You don't have to be rich

To be my gir

lYou don't have to be cool to rule my world

Ain't no particular sign

I'm compatible with

Just want your extra time

And your kiss


Prince
"A vida fica muito mais fácil se a gente sabe onde estão os beijos de que precisamos."
Mario Quintana



Já beijou alguém hoje?

Um dos temas mais recorrentes na literatura, ou melhor, da existência humana é o beijo, e sua história é tão antiga que perde-se na noite dos tempos. As referências mais antigas aos beijos foram esculpidas por volta de 2.500 a.C. nas paredes dos templos de Khajuraho, na Índia. Os romanos tinham 3 tipos de beijos: o "bascium", trocado entre conhecidos; o "osculum", dado apenas em amigos íntimos; e o "suavium", que era o beijo dos amantes. Mas ao que parece as pessoas se beijam desde o Gigalmesh. Nos épicos de Homero o beijo ocorre com frequência: Ulisses beija Pénelope, Circe e o filho Telêmaco; enquanto Paris beija Helena, que antes beijava Heitor. Na Bíblia não é diferente, Jacó beijou seu pai Isaque; José beijou seus irmãos, seus filhos e e seu pai; Arão beijou Moisés; Moisés beijou seu sogro Jetro; Jacó beijou Raquel, ergueu a voz e chorou, como também deve ter chorado Judas depois de trair Cristo com um beijo.

Não sei dizer como o "bascium"do latim vulgar tornou-se "baccio" ou "beijo" das línguas neolatinas, mas sei que por causa de um beijo igualmente vernáculo, dado antes do casamento, Dante fez com que sua bela vizinha Francesca Rimini e o namorado Paolo fossem para o primiero círculo do inferno. Rodan imortalizou a cena da perdição numa das esculturas mais belas do mundo: O beijo.


Foi também com o beijo, embraçado, confuso, apaixonado de Franscesca e Paolo, que Klimt contrubuiu para revolução da pintura moderna. Nele contemplamos a perda do eu, uma perda que todos os enamorados vivenciam. Só os rostos e mãos de Francesca e Paolo estão visíveis, todo o resto é um áureo torvelinho de desejo.


No cinema não faltam casos de beijos famosos. O filme Casablanca emocionou audiências do mundo inteiro com a cena do beijo de despedida que o personagem de Rick (Humphrey Bogart) dá em Ilsa (Ingrid Bergman). "A Um Passo da Eternidade" apresentou uma das cenas mais reconhecidas de beijo da história do cinema: a que ocorre entre as personagens de Burt Lancaster e Deborah Kerr enquanto estão deitados na areia da praia. No filme de animação da Disney, "Lady and the Tramp (A Dama e o Vagabundo)", enquanto os personagens-título comem um espaguete simultaneamente, de lados opostos, seus lábios se encontram no meio. Um clássico!

Clássico e polêmico se tornou também o beijo de um bem-sucedido médico afro-americano (Sidney Poitier) e uma garota branca da classe média alta (Katharine Houghton). Em uma das primeiras cenas do filme, os dois personagens beijam-se num táxi que pegam ao sairem do aeroporo. Todavia, nenhum beijo causaria tanto rebuliço quanto o do filme Brokeback Mountain. A cena em que Ennis (Heath Ledger) reencontra Jack (Jake Gyllenhaal) pela primeira vez em anos, e se beijam logo imediatamente, é uma das mais lembradas. Acabou por levar um MTV Movie Award de melhor sequência de beijo.

Beijar faz bem, é poético, romântico, necessário!... Segundo cientistas, beijar estimula nosso cérebro a produzir o oxytocin, um hormônio que nos dá aquela ótima sensação que sentimos quando beijados. Durante um beijo são mobilizados 29 músculos, sendo 17 linguais. Os batimentos cardíacos podem aumentam de 70 para 150, melhorando a oxigenação do sangue, o que mostra que o beijo tem também benefícios para o coração. Mas há um detalhe, no beijo há uma considerável troca de substâncias, 9 miligramas de água, 0,7 decigramas de albumina, 0,8 miligramas de matérias gordurosas, 0,5 miligramas de sais minerais, sem falar em outras 18 substâncias orgânicas, cerca de 250 bactérias, e uma grande quantidade de vírus. Mas não se assuste com esses números, o beijo é ótimo. Além disso, o beijo gasta calorias. Acredita-se que um beijo caprichado consuma cerca de 12 calorias.
O beijo é uma das maiores manifestações de carinho, onde duas pessoas que se gostam podem expressar o mais profundo afeto. É também um termômetro do relacionamento. Não só a ausência do beijo, mas também quando o diálogo na vida a dois começa a diminuir, é sinal de que a relação está se deteriorando e precisa ser reavaliada. O beijo é uma dança, e como, tal deve ter harmonia entre os participantes, você não pode pisar no pé do outro, os movimentos devem ser sincronizados, e quanto mais se conhece um ao outro e maior a intimidade, mais harmonia é alcançada. Portanto, aproveite que hoje é o dia mundial do beijo, se inspire, e demonstre o seu amor através desta que é uma das maiores manifestações de carinho. Beije muuuuuuito.