sexta-feira, 13 de abril de 2007

O Santo do Absurdo


Numa data como esta, 13 de abril, nascia um dos maiores escritores da Irlanda - que todavia só queria saber de escrever em francês. Samuel Backett era assim mesmo, imprevisível, inconstante, mudava de língua e até de nome - muitas vezes assinava seus textos como Andrew Belis. Não viera para explicar, mas confudir. Contudo, e em tudo, sempre deixava transparecer seu gênio inconfundível.
Beckett começou na litertura muito jovem, aventurando-se em ensaios: "Dante... Bruno", "Vico... Joyce", e "Proust". Depois arriscou-se na poesia e escreveu "Whoroscope", um poema repleto de trocadilhos intraduzíveis e provocativos, a começar pelo título, que era uma junção das palavras "Whore" (prostituta) e "Horoscope" (horóscopo). Em seguida tentou alguns contos, como o "More Pricks than Kicks" (mais pontadas que patadas), outro trocadilho enigmático.
Daí então, talvez para não ser visto, ou rotulado como o rei dos trocadilhos, ele passou a se deidcar aos romances, e compôs "Murphy", depois a magnífica trilogia "Molloy", "Marlone morre" e "O Inominável" (que é o meu preferido). Estes romances constituem uma inovação marcante na prosa moderna, trazem um estilo telegráfico, de rítmo sinocpado que exprime, por si, o caráter fragmentário da consciência. Iria fazer escola.
Mas seria através da dramatúrgica que seu nome passaria à posteriadade. Suas peças de humor negro, surreais, desconcertantes, causaram tanto impacto que Beckett acabou sendo intronizado entre Eugène Ionesco e Arthur Adamov como um dos mestres-fundadores do teatro do absurdo. A peça que mais gosto é "Esperando Godot", onde ele coloca em cena dois velhos vagabundos que dialogam mecanicamente enquanto esperam um misterioso Godot, que nunca aparece. A quem diga que o nome Godot seja uma corruptela de God (Deus) .
O filósofo Cioran costumava definir Beckett como um "homem apartado", para mim ele era quase um santo. A persistência de uma gravidade "religiosa" em sua literatura, apesar da ausência de qualquer metafísica ou fé subjacente, confere à obra dele um páthos especial, quase sagrado.
É verdade que ele também errou na vida, e muito. Quando sua noiva, Lúcia, a filha de James Joyce, enlouqueceu, ele não pensou duas vezes antes de abandoná-la. Mas se arrependeu quando tempos depois foi esfaqueado por um ladrão em Paris, e viu seu ex-sogro vir em seu socorro, pagando as despesas do hospital.
A relação de Beckett e Joyce sempre foi de pai e filho, eles sabiam da importância um do outro, tanto que juntos formaram um ponto de culminância na tradição literária do ocidente, que até então permance inalcançado.

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