terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Por falar nisso...


Esta cena do filme "Pecados Íntimos", em que Brad Adamson pergunta a Sarah Pierce: “Do you feel bad about this?”, ela responde: “No, I don’t” e ele replica: “I do. I feel really bad.”, fez-me, imediatamente, recordar Rodolfo e Emma Bovary. O desenvolvimento do filme veio confirmar a impressão de haver um paralelo com a Madame Bovary, de Gustave Flaubert:

“Não sabe que há almas que vivem em contínuo tormento? Necessitam alternadamente de sonho e de acção, das paixões mais puras e dos prazeres mais furiosos, e por isso se lançam em toda a espécie de fantasias, de loucuras.Emma olhou-o como quem contempla um viajante que passou por países extraordinários, e disse:

- A nós, pobres mulheres, nem mesmo essa distracção é concedida!

- Triste distracção, pois nela não se encontra a felicidade.

- Mas é coisa que se encontre alguma vez? – perguntou ela.

- Sim, encontra-se um dia –, respondeu ele.(…)

- Encontra-se um dia – repetiu Rodolfo -, um dia, subitamente, e quando já se começava a desesperar. Então entreabrem-se horizontes, e é como uma voz que exclama: «Ei-lo!» Sentimos necessidade de fazer a essa pessoa confidências da nossa vida, de lhe dar tudo, de lhe sacrificar tudo! Não são necessárias explicações: adivinha-se que está ali. Encontrámo-la já em sonhos. (E olhava-a.) enfim, está ali, o tesouro que tanto procurámos, ali, diante de nós; brilha, resplandece. Mas há ainda um resto de dúvida, porque não ousamos acreditar…”

Não há maneira de fugir, Flaubert confessou o que nós, homens ou mulheres, pensamos em segredo: Emma Bovary c’est moi.

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