terça-feira, 24 de julho de 2007

De Capa e Espada!


Seu nome verdadeiro era Dumas Davy de la Pailleterie. Mulato, filho de um general de Napoleão, e neto de uma escrava com um marquês decadente – de quem adotou o nome de Alexandre - ele passou a posteridade como um dos mais emblemáticos e controvertidos autores de romances históricos e novelas de aventura. Antes disso, porém, ele brilhou no teatro, sendo responsável por um dos primeiros triunfos da dramaturgia romântica: Henrique III e sua Corte – peça histórica de enorme sucesso que o projetou nos círculos literários. A simpatia do publico era (e ainda é) uma constante em sua carreira, todavia o mesmo não se pode dizer da crítica.
Megalomaníaco, de uma presunção ilimitada, Alexandre Dumas, ainda quando estreante, já supunha-se o grande gênio do seu tempo – o que poderia ser verdade se não tivesse sido contemporâneo de Vitor Hugo, Balzac e Sthendal, dos quais sempre permaneceu aquém. A crítica de sua época (e de todas as épocas) jamais o compararia a esses titãs. Devido ao caráter «popular» e «comercial» (Sainte-Beuve, em 1839, dirá «industrial») da sua obra, Dumas era visto como um escritor de segunda categoria, o Bernard Cromwell do século XIX, frequentemente considerado um caso não de «alta» mas de «baixa» cultura – quando se lhe não punha mesmo em causa a propriedade da aplicação do termo «literatura».
Alexandre Dumas, diziam os críticos, era muito vulgar.
Não obstante, contrariando a opinião da crítica, Dumas continuava (e continua) queridíssimo pelo público, inclusive por aqueles titãs que a crítica tanto estimava. Vitor Hugo, por exemplo, dizia que só Alexandre Dumas sabia romancear a história!... De fato, nesse sentido, ele era ímpar. Mesmo sabendo que a História tendia a exigir mais nuanças, mais ambigüidade do que estaria acostumado o enredo dos folhetins, Dumas compensou esse detalhe recorrendo aos seus dotes de excelente dramaturgo, e, com efeito, deu vida aos acontecimentos criando personagens secundárias que agiam na História, buscando segredos de alcova, mexericos de outros tempos, recriando enfim a atmosfera da época retratada. E refazia assim uma História que, sendo mais cheia de aspectos cotidianos, conseguia ser mais "real" que aquela que se lia nos livros tradicionais de historiografia, exatamente como desejava o público de sua época.
Foi então com essa receita que compôs algumas de suas obras primas.
Bom é dizer que ele também contou com o serviço de ghost-writers, ou melhor, com a colaboração de alguns bons amigos que o ajudavam a escrever a quatro, ou mesmo seis mãos. Fique bem claro que a concepção do enredo e dos personagens era toda dele. Os amigos apenas davam uma retocadinha nos detalhes. Entres estes estava o poeta Gerard de Nerval e o escritor August Maquet (hoje esquecido).
A propósito, é com Maquet que Dumas escreve o primeiro livro da série que lhe daria fama internacional: Os Três Mosqueteiros!... Nele aparecem os heróis Athos, Porthos, Aramis e D’artagnan. Sua trama altamente elaborada, cheia de ação, com boas doses de humor e erotismo, faz do livro êxito instantâneo. Poucos meses depois de sua publicação, surgiria outro sucesso: O Conde Monte Cristo (o meu preferido), para o qual, além de Maquet, houve a colaboração de P.A. Fiorentino. Na esteira viriam a Rainha Margot, O Visconde de Bragelonne (do qual faz parte O Homem da Máscara de Ferro), e uma excelente biografia romanceada de Napoleão.
Por causa da colaboração dos amigos, os críticos chegaram a acusá-lo de charlatão, farsante e aproveitador, e diziam que sua obra era composta de livros bastardos. Dumas não dava a mínima a essas acusações, e tampouco o público, cujo interesse e admiração permeneceu (e permanece) inalterado até hoje. Em si falando de bastardia-literária o único sucesso que o velho Dumas teve foi o escritor e herdeiro Alexandre Dumas Filho!... Mas isso já é outra história.

Leiam e tirem suas próprias conclusões.

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