
Sobre os trabalhos de Segall e Portinari, Mario de Andrade escreveria em 11 de julho de 1941 à sua amiga Henriquetta Lisboa: “(...) O Portinari quando se propôs fazer meu retrato já me queria muito bem e éramos já muito bons camaradas. E além disso ele tinha por mim um especial e muito agradecido carinho.(...) E foi nesse estado iluminado de amor que ele fez o meu retrato que...eu fiz ele fazer de mim: só bom“. “Como os retratos dele (Portinari) e do Segall me completam... quase chego a me envergonhar.(...) O retrato feito pelo Segall foi ele mesmo sozinho que fez. Não creio que o Segall, russo como é, seja capaz de ter amigos. Pelo menos no meu conceito de amizade, uma gratuidade de eleição, iluminada, sem sequer pedir correspondência. Éramos bons camaradas e apenas. Como bom russo complexo e bom judeu místico ele pegou o que havia de perverso em mim, de pervertido, de mau, de feiamente sensual. A parte do Diabo. Ao passo que o Portinari só conheceu a parte do Anjo. Às vezes chego a detestar (me detestar) o quadro que Segall fez.
Anita fez vários retratos do escritor paulista, (uns vinte, segundo Mario de Andrade em sua carta à Henriqueta), mas, em 1922, ela e Tarsila pintaram juntas os retratos do amigo escritor, presenteando-o pelo seu aniversário em 9 de outubro do mesmo ano, segundo informações de Marta Rosseti, autora do livro "Anita Malfati – no Tempo e no Espaço". O resultado desse trabalho exemplifica claramente os traços mais livres de Anita (que ela abandonaria em seguida), com as cores dominando a composição, o fundo plano e expressividade concentrada nas cores fortes das faces e da testa. Houve reclamações: O “ar messiânico” e a “magreza espigada”, comentados por Mario de Andrade como se ele tivesse “jejuado quarenta dias e quarenta noites” revelavam, segundo suas próprias palavras, o espírito dessa fase de delírio que vivenciou.
Coloco isto aqui porque acredito haver uma costura interessante a ser feita entre as interpretações plásticas dos artistas, a interpretação pessoal do próprio retratado como modelo exigente (e nem sempre justo) que era, e a do espectador deste blog que deve também exercer o seu direito à interpretação. Então, por favor, olhem, comentem e constatem que Mário de Andrade não passava de uma diva.
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