domingo, 7 de junho de 2009

Miss Solidão


A solidão é a região mais agreste da poesia, e nenhum outro poeta, nem mesmo Emily Brönte, parece-nos tão desolada quanto a sua quase homônima, Emily Dickinson. A grande estrela da poesia americana depois de Walt Whitman, e uma das mais brilhantes da língua inglesa, temia a solidão como quem teme a cegueira, e teve com ambas encontros psicossomáticos.
Emily Dickinson era rica (como a maioria dos calvinistas tradicionais), casada com um juiz, mas apaixonada pela irmã deste - a quem dedicou alguns dos seus melhores poemas, como "Não posso viver com você" e "Renúncia é virtude cortante". Estes títulos já nos dão uma clara idéia do quanto se pode ser solitário mesmo estando acompanhado.
Contudo, a arte de Dickinson não se restringe a isso; na verdade o seu gênio é tão original, que chega a modificar o nosso entendimento quanto às possibilidades da poesia. Se é possivel a algum poeta reinventar o seu estilo a cada novo poema, é algo discutível. Mas se alguém foi capaz de fazê-lo, esse alguém foi Emily Dickinson. Pelo menos é a impressão que eu tenho.
Também é impossível lê-la sem ser confrontado por sua espiritualidade sumamente individualizada. Quem a lê percebe uma experiência cristã pouco convencional, que ela declinava de expressar aberta e conscientemente, limitando-se a dramatizá-la na poesia. No poema "Imperatriz do Calvário", por exemplo, Dickinson insinua haver sido desposada pelo Espírito Santo, uma alegoria mística tipicamente católica, que ela vai descobrir no quinto versículo do capítulo 62 de Isaías.
Diante de tais aspectos, depreende-se logo que convém conhecer nossos limites ao lermos a obra dessa mulher formidável, e ao tentarmos decifrar sua alma complexa e solitária. Eu não me atrevo a dizer muito, pois dos seus 1.789 poemas li apenas algumas dezenas. Não obstante, nestes poucos, deu para ouvir uma angustiada canção de vitória sobre desejos sublimados. Vale experimentar.
O esplendor de sua poesia resiste às traduções, mas se souber inglês leia no original, pois, apesar do esforço, seus tradutores sempre deixam escapar algo. Talvez isso seja consequência do uso excessivo de travessões que refletem um certo laconismo, sempre mais enigmático à medida que as palavras se justapõem.
Mas que ninguém hesite ou faça careta, é indubitável sua força poética. Quanto mais a lemos, mais ela nos expõe às suas epifinias verbais.

3 comentários:

helentry disse...

Bons ventos te trouxeram! Estou muito feliz em ler sobre Miss Solidão!Ainda vou ler a poesia!Que prezeres me esperam?
Eloisa Helena (helentry)

Anônimo disse...

Dickinson!!! Ual! Você fala minha língua! Sou professora de Literatura, tudo quando é literatura. Não sei montar um blog e não tenho endereço aqui. por isso me posto como anonima. Sou A driana Silene no orkut. Visitarei sempre seu blog. A princípio, gostei do que escreveu sobre os bibliotecários e eu encontrei seu blog justamente quando procurava por esta palavra, para um livro que estou escrevendo. Como acho sua comunidade ou seu perfil no orkut?
abraços

Anônimo disse...

Elô, pensei q vc estava de mal. Bom te ver.

Adriana, pazer em tê-la aqui de novo. No orkut eu frequento uma turma legal nessa comuna: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=51141193

Junte-se a nós. Só gente final, inteligente, elegante e sincera.