sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O homem que falava brasilês!


Mário de Andrade foi um dos escritores mais multiformes da literatura brasileira. Cultivou praticamente todos os gêneros. Foi poeta, romancista, contista, ensaísta, crítico literário e de arte, musicólogo e folclorista. Mas, sobretudo, foi o primeiro literato a escrever em brasileiro!... É possível distinguir três fases na sua obra: primeiro, foi o delírio modernista da “Paulicéia Desvairada”. É uma fase de renovação belicosa, de iconoclastia e maneirismo. E ao mesmo tempo a fundação teórica e a realização prática.
Numa segunda fase, é o descobrimento do País, do nacionalismo pitoresco, do folclore, ou seja, é a época de O Clã do Jabuti, do insólito Macunaíma e do magistral Ensaio sobre a Música Brasileira. Num terceiro período, a sua arte, abandonando o pitoresco exterior, interioriza-se e amadurece pela meditação. Torna-se mais serena mais profunda, e então surge o poeta do “Remate de Males”. Aqui o nacional, o folclórico, o coletivo fundem-se com o pessoal, o individual, numa solução estética muito original, típica do autor. Assim a poesia de Mário de Andrade é inconfundível, tem um sotaque brasileiro e ao mesmo tempo pessoal.
Na ficção distingue-se principalmente no conto, tendo sido uma dos maiores criadores do gênero entre nós. Em caso de dúvida sugiro que leiam Belazarte e os Contos Novos. Mas excepcional mesmo é Macunaíma, que ele classificou como rapsódia brasílica, “o experimento ficcional mais sério que o modernismo fez do caráter nacional.” No ensaio, brilha uma das inteligências mais penetrantes da nossa realidade. E Mário de Andrade é o autor de alguns melhores livros brasileiros do gênero. Basta lembra seus estudos sobre Aleijadinho e Álvares de Azevedo, e outros reunidos em Aspectos da Literatura Brasileira, seus escritos sobre música brasileira e os artigos de crítica enfeixados no Empalhador de Passarinhos.
Mário de Andrade foi, acima de tudo, o intelectual e artista cônscio de seu dever, de sua missão histórica. Essa consciência faz dele um participante, um agitador de idéias e de espíritos. Dizem que sua personalidade irradiava alegria de viver e estímulo ao trabalho criador. Isso transpira principalmente de sua numerosa e palpitante correspondência. Com esse alto sentimento de obrigações com o seu momento histórico-cultural, de home a serviço da renovação nacional, plasmou a sua obra. Isto explica talvez o cunho circunstancial, às vezes polêmico, de parte de sua criação literária. Exagerou alguma vez no sotaque brasileiro a sua língua artística. Mas, no todo, a sua obra é das mais altas expressões da literatura nacional, e, impregnada de calor humano e entusiasmo, te força suficiente para perdurar.

Um comentário:

Anônimo disse...

gostei do artigo. achei-o leve, bacana. era tudo que eu pensava mas não tinha escrito ainda.rsrsrs