sexta-feira, 4 de maio de 2007

Ele queria ser um livro!

Nomes condicionam destinos, diz o provérbio latino (Est omen in nomen), e isto é particularmente verdadeiro no caso do mais conhecido escritor israelense da atualidade, Amós Oz, que hoje completa 67 anos de vida. O prenome evoca o profeta bíblico que, à época do rei hebreu Jeroboão III (período de conquistas territoriais e de concentração da riqueza), corajosamente denunciou a hipocrisia dos poderosos e a opressão que pesava sobre os mais fracos. Oz, por sua vez, sobrenome adotado pelo escritor, quer dizer coragem. A coragem do profeta anima o escritor, que, sem ser um pacifista ingênuo, é um defensor da causa pela paz entre judeus e palestinos. Nascido em Jerusalém, nos anos que antecederam a formação do estado de Israel, Amos Oz, ainda menino, decidiu que seria um livro. Não escritor: livro.
Ainda à sombra do holocausto na Europa, sua família e seus vizinhos em Jerusalém viviam em estado de permanente apreensão: e se os britânicos expulsarem os judeus da Palestina? E se os árabes atacarem? O garoto imaginava que um livro teria mais possibilidades de enfrentar esses reveses. Mesmo que uma obra fosse proibida ou queimada, sempre haveria a chance de um exemplar sobreviver numa biblioteca escondida. Agora aos 67 anos, Oz de certa forma realizou o sonho infantil, e tornou-se não apenas um, mas 25 livros belíssimos, que já foram traduzidos em vários idiomas. No Brasil a Companhia das Letras publicou dele "Conhecer Uma Mulher", "A Caixa Preta", "Fima", "Não Diga Noite", "Pantera no Porão", "O Mesmo Mar" e "Meu Michel". Em 2004 recebeu o importante Prêmio Goethe, da cidade de Frankfurt, reconhecimento de "impressionante senso de responsabilidade moral". Coisa que falta a muita gente hoje em dia.
Como escritor consagrado, Oz não rompeu com a tradição intelectual da família. Mas contrariou o nacionalismo fervoroso dos Klausner para se tornar uma voz moderada em meio à exaltação política e religiosa do Oriente Médio. Ele prega que só haverá paz em Israel quando o território for dividido em dois Estados independentes, um israelense, o outro palestino. "Meu pai provavelmente diria que eu sou um traidor", admite. Otimista, ele arrisca até uma profecia (palavra que ele, é claro, usa de forma jocosa): "Um dia, a Palestina terá uma embaixada em Israel, e Israel terá uma embaixada na Palestina. E será possível ir de um prédio a outro a pé, pois eles estarão na mesma cidade: Jerusalém".

Que assim seja!

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