segunda-feira, 7 de maio de 2007

Psiu!

Nietzsche, com a ironia que lhe era peculiar, costumava dizer que é difícil o convívio entre os homens, porque é difícil o silêncio. Décadas após essa afirmação constatamos que o aforismo permanece certeiro, talvez até revelador, mesmo que se diga o contrário. Nesta nova Idade das trevas - império da agitação, da pressa e de um barulho absurdo (do qual o limite é a surdez) - o silêncio acabou por tornar-se um bem raro, um artigo de luxo, cuja preciosidade e escassez resultou na criação de uma data comemorativa: o Dia do Silêncio!... Que, aliás, é hoje, 07 de maio!


O silêncio tem sido o grande desafio e tormento dos bibliotecários contemporâneos que, não raro, têm encontrado dificuldades em manter um ambiente de tranquilidade para a leitura e o estudo - especialmente o estudo em grupo. Nessas circunstâncias permite-se a discussão, contanto que seja num tom de voz adequado, isto é, moderado. Todavia, há o fato de que os bárbaros invasores desconhecem o conceito de moderação. Volto aqui a empregar o termo bárbaro referindo-me não apenas aos leitores mal-educados, mas a certos grupos de bibliotecários inovadores, para quem o silêncio não é só desnecessário, mas até indevido, impróprio, inconveniente, ilícito, errado, ilegítimo, censarável, injusto e abusivo! Desde que Edson Nery da Fonseca, o mais respeitado bibliotecário brasileiro, defendeu a idéia de que as bibliotecas devem ser agitadas como shopping-centers, tem crescido o número de bibliotecários que pregam a extinção do psiu. Outro dia um desses bárbaros escreveu um artigo, tão eloqüente quanto radical, onde comparava bibliotecas com cemitérios e seus frequentadores com zumbis. E numa denúncia da suposta ditadura do silêncio, clamava por um revolução bibliotecária que provocasse a plena quebra de padrões obsoletos!... Sim, o silêncio também está obsoleto!
Conforme o revolucionário, a biblioteca é um lugar para ruidosos bate-papos, divagações, digressões, discursos e discussões. Lugar onde se resolve e cria-se conflitos, um centro de crítica e dialética, destinado a subversão e total liberdade de expressão!... Noutros termos, o silêncio deveria dar lugar a zoada retórica e despropositada que ecoa no discurso desse eloqüente agitador.
Mas o fato é que a Biblioteca não é a bolsa de valores, nem coreto, nem púlpito e tampouco plenário. Sua função histórica é coletar e preservar a herença intelectual humana, e oferecê-la à análise e a uma profunda meditação, de modo que suscite novas idéias, críticas e descobertas. E esta função tem sido muito bem desempenhada em silêncio. As grandes criações do espírito humano, das quais a biblioteca é testemunha e guardiã, não foram produzida em meio a tumultos e gritarias. O conflito é um efeito do pensamento livre, mas não seu meio. E o lugar mais adequado para seu exercício é a escola, a sala de aula, não as salas de leitura. Numa epóca em que se confunde liberdade de expressão com confusão e barulho, não é de se admirar que vejam no silêncio e na ordem uma forma arcaica de repressão. E creio que essa data comemorativa talvez seja um esforço sutil de evitar o fim de mais um aspecto de nossa rarefeita civilidade.

Um comentário:

DIARIOS IONAH disse...

muito bom, so que orefiro ERA DE KALI IDADE DAS TREXAS.
Mas o SILENCIO esta bem ao alcance de cada um. se voce se interiorizar vai encontrar o verdadeiro silencio.
A VIDA AGITADA EH UMA QUESTAO DE
ESCOLHA!