terça-feira, 8 de maio de 2007

A Greta Garbo da Literatura

A fotografia ao lado está péssima, eu sei, mas é uma das poucas disponíveis que retratam a personaidade literária mais obscura da atualidade. Thomas Ruggles Pynchon Jr. está hoje completando 70 anos de vidas, mas a última vez que foi visto, ou melhor, fotografado, estava assim, com 18 anos, quando ainda era aluno de Nabokov.
Não, ele não foi abdusido. Thomas Pynchon é apenas radicalmente tímido, tão tímido que jamais concedeu entrevistas, ninguém sabe seu endereço e nem mesmo seus editores o conhecem pessoalmente. Digamos que ele sofre da síndrome de Greta Garbo. Sei que parece uma jogada publicitária e, se for, é muito bem feita: desde a sua estréia, Pynchon é o sumo-pontífice da sociedade secreta chamada Partido do Silêncio, da qual fazem parte J.D. Salinger, Glenn Gould, Stanley Kubrick e os brasileiros Rubem Fonseca e Raduan Nassar - artistas que sempre acreditaram que sua obra deveria falar por si mesma, sem os procedimentos de uma publicidade excessiva!... Oscar Wilde, Hemingway e Paulo Coelho certamente não pensam assim.
Mas o que diferencia Pynchon dos demais reclusos é que ele inaugurou esse Partido do Silêncio, e o seu sucesso deve-se justamente ao seu mistério, à lacuna que existe entre o homem que criou um código para ser decifrado pelos leitores e o que está por trás das palavras deste código. E quando digo código não estou fazendo uso de uma figura de linguagem. Pynchon é o criador de uma realidade muito particular que se reflete nas sombras do cognoscível, mais precisamente na ordem e desordem da História. Uma realidade paranóica que só encontraria expressão num estilo narrativo pós-joyceano, quase absurdo, que gerou romances grandes, monumentais, difíceis, exigentes, mas extremamente recompensadores após o final da leitura. A narrativa de Pynchon é uma alucinação dentro de uma alucinação, repleto de cineatas sodomitas, cientistas atrapalhados, planos mirabolante, soldados bêbados e putas venenosas; uma literatura onde se mistura física, matemática, química, filosofia, parapsicologia, história, mitologia, ocultismo, música pop, quadrinhos, pentocostalismo, cinema, drogas e psicologia, unindo-os de maneira picaresca, humorística, absurda, poética e sombria. A paranóia é a marca registrada da literatura norte-americana, e um dos motivos de sua vitória é a força da obra de Pynchon, cujo livro principal é “O Arco-Íris da Gravidade”, um monstro pedante de 800 páginas e 5000 personagens!... Absolutamente dispensável, mas imprecindível para quem gosta de desafios. Não obstante, seu maior sucesso é o "Leilão do Lote 49", livro que foi incluído no canône literário inglês como uma de suas obra capitais, e que é uma delícia de se ler, engraçadíssimo, profundo e curtinho, e que pode ser uma iniciação à literatura esquisita desse esquisitão que é, simplesmente, o maior escritor americano vivo.

3 comentários:

DIARIOS IONAH disse...

Cristiano agora fiquei curiosa para ler este monstro sagrado da literatura americana.
O aumentativo de maior escritor vivo americano eh bem redundante!
Quanto ao Oscar Wilde gostar de aparecer fazia parte da pantomina dele.Se nao fosse assim quem saberia da existencia dele?

Unknown disse...

Uma obra realmente fala por si. Existe o boca-a-boca que pode transformar uma obra em sucesso. O mistério atrai muito, não é amigo Chris? Obrigada pelas informações.Também estou curiosa para ler algo deste escritor.

Anônimo disse...

Num mundo em que todos querem aparecer, ler sobre este autor torna-se algo utópico.
A atitude do autor torna-o singular, além claro, de sua magnífica obra.

Parabéns pelo post.